Ohigan” é comemorado duas vezes por ano, durante o equinócio da primavera e do outono que é a época do ano em que o dia e a noite tem a mesma duração. O “Ohigan” também é um momento de transição entre os dias curtos de inverno e os longos dias de verão, ou o inverso. Como um momento de transição sazonal, também representa as transições da vida humana, desde o verão da vida até o inverno escuro da morte. É por isso que o “Ohigan” é um momento para recordar aqueles que já faleceram, particularmente os nossos antepassados e entes queridos. É também um tempo para dar atenção a outro tipo de transição, desta margem do nascimento e da morte para a outra margem do esclarecimento, no qual o nascimento e a morte são transcendidos. Na verdade, nós recitamos o Odaimoku e o Sutra do Lótus com a finalidade de permitir que cheguem à outra margem, a do despertar, tanto aqueles que estão vivos quanto aqueles que estão falecidos, por quem dedicamos os méritos de nossa prática.
Para qualquer tipo de viagem é preciso fazer as malas, ou tomar providências. Mesmo uma viagem de curta duração exige que se prepare uma muda de roupa e artigos de higiene pessoal, como barbeador, desodorante, e assim por diante. Que tipo de provisões, então, que precisamos para a viagem para a margem da iluminação? Neste caso, um kit de barbear ou toalhas não serão suficientes. Precisamos de algo que seja menos substancial e ao mesmo tempo mais real. De acordo com o Budismo Mahayana, quem aspira à iluminação vai precisar daquilo que é chamado de “os seis paramitas”. “Paramita” é geralmente traduzido como “perfeição”, ou seja, “seis perfeições.” Mas, na verdade, significa “atravessar”. Então, essas são as seis características daqueles que são capazes de atravessar desta margem do sofrimento para a outra margem, a da iluminação, e que, além disso, são capazes de ajudar os outros a fazer essa transição e cruzar em segurança.
No Sutra sobre Desvendar os Mistérios (em sânscrito Samdhinirmochana Sutra), o Buda explica estas seis provisões para fazer a travessia ao Bodhisattva Kannon, Aquele que ouve os Clamores do Mundo, que perguntou ao Buda: “Quantas coisas devem os bodhisattvas aprender?” O Buda respondeu: “Em geral, seis coisas os bodhisattvas devem aprender: generosidade, disciplina, paciência, diligência, meditação e sabedoria”
Mais adiante, Kannon pergunta: “Quantos tipos diferentes de cada um dos seis paramitas existem?” O Buda respondeu: “Existem três tipos. Os três tipos de generosidade (doação) estão em doar bens, doar o ensino, e doar o destemor.” O Buda então começa a explicar cada um dos seis paramitas em termos de benefício mínimo, um benefício de longo alcance e um benefício verdadeiramente transcendente ou altruísta. Ele começa com o paramita de doação. Doação de bens materiais é útil, mas dar às pessoas o ensinamento através do qual elas podem se ajudar é ainda melhor. O melhor de tudo é lutar sem medo por pessoas em momentos de necessidade ou sofrimento, mesmo colocando em risco sua reputação ou até mesmo a própria vida.
“Os três tipos de disciplina são a disciplina de cada vez mais abrir mão daquilo que não é bom, a disciplina de cada vez mais desenvolver aquilo que é bom, e a disciplina de cada vez mais beneficiar todos os seres.” Aqui vemos que a disciplina não é apenas autocontrole, mas é a ação de trabalhar ativamente para o bem estar dos outros.
“Os três tipos de paciência são a paciência para suportar a calúnia, a paciência para ter serenidade no sofrimento, e a paciência para observar a verdadeira realidade.” Aqui alguém é paciente mesmo com aqueles que nos têm causado ofensa ou mesmo danos. Mas o melhor mesmo é ser paciente com todas as formas de sofrimento, não desanimar e seguir em frente. A última é a mais notável e especial para os bodhisattvas. Enfrentar todas as coisas como elas realmente são, isto é a impermanência e o vazio de todas as coisas requer muita paciência e coragem. No início, os ensinamentos sobre o “não-eu” e o “vazio” são extremamente desconcertantes, mas com paciência os bodhisattvas chegam a perceber que as coisas, inclusive a verdadeira natureza de nossas próprias vidas, não são “vazias e sem sentido”, mas “vazias e maravilhosas.” Este é uma conversa para outro dia, mas por agora vamos apenas notar que o próprio Buda percebeu que o próprio Buda Dharma requer muita paciência e coragem para compreender e apreciar.
“Os três tipos de diligência são a diligência como armadura, a diligência como o esforço focado para o desenvolvimento cada vez maior de boas qualidades, e a diligência do esforço focado em ajudar os seres sencientes.” Diligência como armadura significa que a maior proteção que podemos ter é nos esforçar continuamente para superar nosso próprio egoísmo e falta de visão, bem como contra qualquer sofrimento que possamos nos confrontar. Evitar maus hábitos e reduzir aqueles que já temos pode ser apenas um começo, no entanto. Nós também precisamos cultivar ativamente o bem. Mas, além disso, os bodhisattvas fazem esforços para o bem de todos os seres.
“Os três tipos de meditação são meditação em um estado de felicidade sem pensamento discriminativo, quieto e silencioso, extremamente tranquilo e impecável, que pode curar as dores das aflições; meditação que traz qualidades virtuosas e poderes, e a meditação que traz benefício para os seres sencientes.” Aqui se fala em meditação primeiramente em termos dos vários estados de calma permanente, os dhyanas de onde a palavra Zen vem. Algumas formas de meditação presentes nos sutras concedem poderes milagrosos que podem ser usados para ajudar a todos os seres. O melhor de tudo é atingir um estado de meditação onde a paz e a felicidade é comunicada a todos os seres, assim, inspirando-os a iniciar a sua própria prática.
“Os três tipos de sabedoria são a sabedoria convencional focada na verdade mundana, a sabedoria focada na verdade suprema, e sabedoria focada em beneficiar os seres sencientes.” A verdade mundana convencional cobre tudo, desde o velho senso comum até à física teórica, mas a coisa mais importante é agir com habilidade no mundo, de modo a beneficiar os outros. A verdade última é perceber o vazio onde todas as coisas estão inter-relacionadas de forma dinâmica e toda a dualidade é transcendida. O melhor de tudo é perceber qual a melhor forma de usar o seu despertar para ajudar todos os seres a também despertar para a verdade.
Estes são os seis paramitas , os seis tipos de qualidades que nos permitem passar da ilusão para a iluminação, do nascimento e morte para a imortalidade. De acordo com Nichiren no Kanjin Honzon Sho : “… O mérito de Buda Shakyamuni em praticar a via do bodhisattva que conduz à Iluminação, assim como pregar e salvar todos os seres vivos desde que ele atingiu o estado de Buda, está totalmente contido nos cinco caracteres do Myo Ho Ren Ge Kyo. Conseqüentemente, quando nós nos devotamos à esses cinco caracteres, os méritos que ele acumulou antes e depois de seu Despertar, são naturalmente trazidos até nós. ”
Isso significa que devemos ouvir a descrição dos seis paramitas como uma promessa de que estas são as qualidades que vamos encontrar dentro de nossas próprias vidas e que devemos as cultivar mais e mais com base na nossa convicção no Namu Myoho Renge Kyo.
Esta frase curta é uma semente que plantamos em nossas vidas e que cultivamos cada vez que a recitamos, e os seis paramitas estão entre os inúmeros frutos que essa semente vai produzir em nossas vidas. Vamos recitar Namu Myoho Renge Kyo com plena confiança e alegre expectativa nos frutos transcendentes que serão nossas provisões para atravessar para a outra margem, a margem do despertar perfeito e completo e da ação compassiva sem limites em nome de todos os seres.
Rev. Ryuei Mccormick
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