por Reverendo Ryuei McCormick

O Ullambana (chamado Obon no Japão) é uma cerimônia de oferecimentos de água pura, alimentos, doces, frutas e outras coisas para nossos ancestrais. É baseada na história do discípulo de Buda, Maudgalyayana, cuja mãe renascera como um espírito faminto. De acordo com o Sutra de Ullambana, o Buda ensinou que, ao final do retiro de verão, oferecimentos deveriam ser feitos à Sangha. O mérito gerado por este oferecimento é dedicado a libertar aqueles que caíram nos três reinos maléficos dos infernos, fantasmas famintos e animais, para que eles pudessem vir a renascer nos céus. Quando isto foi feito, a mãe de Maudgalyayna foi libertada. Como o retiro de verão terminava no meio do sétimo mês do calendário lunar, o 13-15º dia do mês se tornou a data oficial da Cerimônia anual de Ullambana. Alguns lugares (como Tóquio) celebram em julho, mas outros lugares celebram em agosto por estar mais próximo da data do calendário lunar.

O Sutra de Ullambana foi supostamente traduzido para o chinês por Dharmaraksa (233-310), porém muitos eruditos entendem que foi um trabalho chinês redigido em resposta às críticas de que o Budismo minou a piedade filial. O Festival dos Fantasmas é derivado desse sutra e foi celebrado pela primeira vez na China no ano de 538. O termo “ullambana” pode estar relacionado as seguintes palavras Sânscritas: “avalambana” que significa “pendurar-se de cabeça para baixo”, talvez o destino de alguns fantasmas famintos; ou “odana” que significa “arroz cozido”, que é então combinado com a palavra chinesa para “tigela” ou “ullapana” que significa “salvar”.

Intimamente ligada à Ullambana estão os Oferecimentos para a Cerimônia dos Fantasmas Famintos (chamada Segaki-e em japonês). Esta cerimônia é também chamada de “Oferecimento de Alimento” (Seijiki) ou Cerimônia para os Espíritos no Escuro e na Luz (Meiyo-e). É geralmente realizada juntamente com o Ullambana, embora possa ser observada fora dele em outros momentos. Nesta cerimônia, oferecimentos são feitos particularmente para benefício de todos os fantasmas famintos, mas também para aliviar o sofrimento de todos os seres nos seis mundos. Esta cerimônia é baseada no “Sutra da Explicação do Buda sobre os Dharanis para Salvar os Fantasmas Famintos de Bocas Flamejante” que foi traduzido para o chinês por Amoghavajra (705-774). Segundo o sutra, os fantasmas famintos de bocas flamejantes, cujas bocas flamejantes transformavam alimentos em cinzas antes que pudessem comê-los, ameaçavam Ananda, o discípulo de Buda. Disseram-lhe que se ele não encontrasse um meio de alimentá-los todos, ele se tornaria um fantasma faminto em três dias. O Buda então entregou um dharani para Ananda, ou mantra de proteção, que capacitaria um oferecimento de refeição vir a satisfazer todos os fantasmas famintos.

Em outras escolas do Budismo, a recitação do Sutra do Lótus não é uma característica particular da Cerimônia de Ullambana ou dos Fantasmas Famintos. No entanto, no seu tratado “A Abertura dos Olhos (Kaimoku-sho), Nichiren Shonin disse:

A afirmação em alguns outros sutras de que qualquer pessoa pode alcançar o Estado Búdico não está confirmada na realidade. Quando uma mulher se tornou um buda no Sutra do Lótus, a conquista do Estado Búdico por uma mãe foi assegurada. Quando Devadatta, um homem cruel, se tornou um buda, a conquista do Estado Búdico por um pai foi garantida. Este sutra é o “Clássico da Piedade Filial do Budismo”

Nichiren Shonin em Kaimoku Sho

Portanto, na Nichiren Shu, a recitação do Sutra do Lótus e do Odaimoku são as características-chaves dessas cerimônias, pois é nossa convicção que o mérito de os entoar possibilita a conquista do Estado Búdico por todos os seres.

(*) Texto publicado na edição de agosto do Nichren Shu News e traduzido pela equipe de traduções da Nichiren Shu Brasil em agosto de 2019.

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