Por Reverendo Ryuei McCormick

Uma prática comum do Budismo Nichiren é repetir três vezes uma parte da seção em prosa na abertura do Capítulo 2 do Sutra do Lótus, mas muitas pessoas desconhecem por que fazemos isto. Esta passagem diz:

“Esses são todos fenômenos, independentemente de sua aparência como tal, sua natureza como tal, suas entidades como tais, seus poderes como tais, suas atividades como tais, suas causas como tais, suas condições como tais, seus efeitos como tais, suas recompensas como tais, sua igualdade como tal, mesmo com essas diferenças”.

Sutra do Lótus, Capítulo 2 – Meios

Esta é lista das “dez talidades*” ou aspectos dos fenômenos (dharmas em Sânscrito) que compõem a realidade.

As três repetições são na verdade um reconhecimento das três maneiras de ler as dez talidades de acordo com a Tríplice Verdade ensinada por Tiantai Zhiyi (538-597). A Tríplice Verdade consiste em (1) a Verdade do Vazio, significando que todos os fenômenos são vazios de uma natureza própria (um eu) independente, imutável e permanente; (2) a Verdade do Provisório,  significando que, no entanto, os fenômenos tem uma existência provisória com base no fluxo interdependente de causas e condições; e (3) a Verdade do Caminho do Meio, significando que  as coisas são simultaneamente vazias e existem provisoriamente e vice-versa.

Todas as três verdades da Tríplice Verdade se mesclam. Isto porque as coisas não possuem natureza própria tem uma existência provisória e vice-versa. Tanto o Vazio quanto o Provisório expressam o Caminho do Meio do vazio, ainda que exista brevemente. Este é um ensinamento muito complexo e sutil que é o coração do Budismo Tiantai, que foi bem apreciado por Nichiren Shonin.

No “Profundo Significado do Sutra do Lótus”, o Grande Mestre Tiantai ressalta que, organizando os caracteres chineses de cada uma das dez frases, é possível lê-las de forma que uma parte ou outra da tríplice verdade seja enfatizada.

A primeira maneira é enfatizar a talidade de cada uma das dez frases. Isto porque talidade é um sinônimo para vazio, um reconhecimento da Verdade do Vazio. Por exemplo, “tal é a aparência deles” (ze-so-nyo).

A segunda maneira é enfatizar o caráter distinto de cada uma das dez frases como um reconhecimento da Verdade do Provisório. Por exemplo, ao ler, “suas aparências como tal” (nyo-ze-so).

A terceira maneira é enfatizar a ligação (o vínculo) “como”, representando a Verdade do Caminho do Meio. Por exemplo, ler “como tal, sua aparência” (so-nyo-se).

Isto não funciona tão bem em inglês (NT: ou português) quanto no chinês clássico, e na verdade, não reorganizamos os caracteres em nossa própria prática. Ainda assim, a tríplice repetição é uma maneira de reconhecermos que cada uma das dez talidades deve ser compreendida como a Tríplice Verdade do Vazio, do Provisório e do Caminho do Meio.

(*) Talidade: as coisas tais como realmente são, verdadeira natureza dos fenômenos (fonte Dicionário Babylon on-line)

(**) Texto pulicado na edição de agosto do Nichiren Shu News e traduzido pela equipe de traduções da Nichiren Shu Brasil em agosto de 2019

free vector