Por Rev. Yodo Okuda

Existe um conceito que chama Hokke-shinto (法華神道 Xintoísmo do Sutra do Lótus). Existem algumas explicações sobre o Hokke-shinto, mas a maioria, fala sobre os 三十番神 Sanjyubanjin, que são um grupo de trinta famosas divindades (kami) do Japão que, uma por dia durante trinta dias, protegem os praticantes do Sutra do Lótus. O Hokke-shinto não foi inventado pela Nichiren Shu, mas já existia desde antes de sua fundação. Não é muito claro quando nossa Escola incorporou esse conceito, que veio importado da Escola Tendai Shu, mas existem algumas hipóteses. Algumas fontes atribuem isso ao próprio Nichiren Shonin e outras afirmam que foi Nichizo Shonin (1269-1342).

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A hipótese de que foi Nichiren Shonin tem duas versões, uma afirma que enquanto Nichiren Shonin recitava o Sutra do Lótus no Monte Hiei, apareceram para ele os Sanjyubanjin. Outra fala que Kanemasu Yoshida transmitiu o ensinamento Xinstoísta sobre os Sanjyubanjin para Nichiren Shonin. Mas, as duas versões não são confiáveis, porque não existem provas, portanto é apenas uma lenda. Já, as histórias sobre Nichizo Shonin tem bastante fundamentação que prova que ele invocava, e popularizou, os Sanjyubanjin. Até hoje a Nichiren Shu consagra os Sanjyubanjin.

Nichiren Shonin somente adotava Tenshō Daijin (Amaterasu) e o Grande Bodhisattva Hachiman como divindades protetoras. No Rissho Ankoku Ron, Nichiren Shonin expôs a ideia de que as divindades teriam ido embora do Japão, por isso ele não os invocava, porém tinha grande consideração por eles.

Nichiren Shonin não negava os Shoten Zenjin (諸天善神 divindades), mas a posição dele sobre esse assunto não foi definitiva. Ele explicava sobre o Brahmanismo, Gedo (外道 religião não-budista) da Índia, e falou também sobre o Confucionismo da China. Mas, ele não se referia ao Xintoísmo como Gedo do Japão. Pode-se considerar que Nichiren Shonin considerava o Xintoísmo como um animismo japonês. Como a posição dele não era bem definida, aconteceram alguns desentendimentos entre os discípulos das gerações futuras sobre qual deveria ser a posição das divindades (神天上法門 shintenjō hōmon).

Naquele tempo, havia um conceito chamado Shinbutsu Shugo (神仏習合 sincretismo dos kami e Budas). Cada vila do Japão tinha sua própria forma de animismo, que era muito particular de cada local, com ritual, costumes e divindades diferentes. Então no século VII entrou o Budismo no Japão, que era já naquela época uma religião internacional, e se espalhou pelo país inteiro, acabou se sincretizando com a religião de cada vila e tomando o lugar do Xintoísmo.

Em Nara, existe um grande Buda no templo Todaiji 東大寺 que foi construído pelo Imperador Shomu, que também se converteu ao Budismo, para a proteção e paz do Japão. Mas, essa não é a função do Buda. Isso já foi um reflexo do sincretismo do budismo com a religião nativa do Japão. O Grande Buda de Nara é um símbolo disso.

Da mesma maneira, as pessoas começaram a pensar que os Budas e divindades haviam se tornado a mesma coisa e por isso começaram a recitar os Sutras budistas na frente de santuários Xintoístas. Logo apareceram templos Budistas dentro de santuários Xintoístas e o contrário também. Assim, os 神宮寺Jinguji (templos-santuários) se espalharam por todo o país.

Esse pensamento também provocou o surgimento do que se chama de Honji suijaku (本地垂迹), que afirma que os Budas apareceram no Japão como kami para salvar as pessoas mais facilmente. Por enquanto, explico simplesmente que Honji suijaku é um conceito importante dentro história do budismo do Japão, então outro dia eu quero escrever mais detalhadamente sobre esse assunto.

No século VIII, no ano 781, o governo imperial declarou que a divindade da guerra do Japão, Yahata no Kami (八幡の神), era Hachiman Daibosatsu (八幡大菩薩 ). De acordo com a explicação dada pela teoria de Honji suijaku, Hachiman Daibosatsu é uma transformação de Buda Amida. Mas, Nichiren Shonin negou isso e considerava que ele era uma transformação do Buda Shakyamuni. Por essa razão Nichiren Shonin invocava Hachiman Daibosatsu.

Nichiren Shonin pensava que o Dharma correto que nasceu na Índia ia seguir o caminho em direção ao sol nascente e então iria brilhar para todos os outros países. Então, como Tensho Daijin,(天照大神 ou Amaterasu Oomikami 天照大御神 ), que é a divindade fundadora do Japão, tem um relacionamento com o Sutra do Lótus e com a propagação desse ensinamento correto para o mundo inteiro. Por essa razão Nichiren Shonin consagrou essa divindade no Gohonzon.

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