por Shami Myoran Gifford

Em 03 de outubro de 2008, visitei o Templo Seichoji na Prefeitura de Chiba no Japão para participar da Cerimônia de Docho. Participando dessa cerimônia, eu seria oficialmente ordenado Shami (Reverendo Aprendiz da Nichiren Shu). Até esse momento, meus amigos e colegas me perguntavam com frequência “como foi que você se interessou pelo Budismo?” A resposta para essa pergunta começou aproximadamente há uns 10 anos atrás. 

Desde criança, fui educado como um católico romano, eu me sentia inteirado sobre as doutrinas da igreja católica, mas eu não me sentia espiritualmente conectado com os ensinamentos. Faltava algo para mim. Comecei a fazer muitas perguntas e procurar por diferentes opiniões a respeito de fé e crenças. Uma pergunta recorrente era “Quem é Deus? Quem é esse Deus que as pessoas tanto confiam?” Quando algo ruim acontece nós dizemos “por que Deus faria algo assim?”. No entanto, quando algo bom acontece nós dizemos “obrigado, Deus”. Eu realmente queria saber por que, nós como uma sociedade, colocamos tanto poder e responsabilidade numa força desconhecida; toda alegria, sofrimento e glorificação são atribuídos à uma única causa, Deus. Se esse for o caso, do que somos responsáveis? Enquanto eu procurava por respostas, li um artigo numa revista no qual o Buddha foi citado como dizendo “Seja sua própria luz, e não dependa dos outros”. Isto fez sentido para mim e eu decidi aprender mais sobre Budismo. Fui a um templo terra pura, templo chinês e templo tibetano, mas todos estes lugares me pareceram similares à religião complexa que eu tinha deixado para trás. O próximo templo que visitei foi o Templo Budista Nichiren de Toronto. Naquele dia, o Ministro, Reverendo Tsukamoto, aproveitou a ocasião para me explicar muito cuidadosamente e com muita paciência a história da vida de Shakyamuni Buddha. A informação que eu recebi naquele dia foi simples e bonita. Com o tempo, eu fiquei sabendo quem foi Nichiren Shonin e a importância do Sutra de Lótus. Naquela época, eu sabia que tinha finalmente encontrado a verdade. Nos anos seguintes, continuei frequentando o templo semanalmente para estudar o Sutra de Lótus. 

Um dia me ocorreu a ideia de que eu queria me tornar um ministro. Eu pedi permissão ao Reverendo Tsukamato para me tornar um ministro. Ele cuidadosamente me explicou o que isso envolveria, o trabalho duro e a perseverança necessária. Foi então que ele me perguntou por que eu queria me tornar um ministro. Aquela pergunta deveria ter sido muito simples de responder, mas não foi. Havia muitas razões do porquê, tal como eu querer ajudar e ensinar o Sutra de Lótus para as pessoas que sofrem. A resposta do meu professor foi que como um leigo eu poderia fazer isso. Então, o resultado foi que ele disse não ao meu pedido.  Novamente eu levei algum tempo para aprender mais profundamente, através da paciência e autorreflexão, e logo entendi que fui seletivo sobre um ensinamento preferido, ignorando outros tais como o tópico do inferno. Esse conceito é amplamente usado no Cristianismo; foi por isso que eu fiquei desconfortável com o assunto. É claro, todos os ensinamentos expostos pelo meu professor eram igualmente importantes, assim eu aprendi a aceitar as “coisas como elas são”. Com o tempo, eu vim a saber a respeito da quantidade de maturidade espiritual e devocional que é necessária para se tornar um ministro. Tal como não ter qualquer barreira em ajudar pessoas e estar disponível o tempo todo. Eu pedi permissão mais uma vez para me tornar um ministro. Finalmente, após sete anos, desde minha primeira solicitação, eu recebi permissão para começar o treinamento necessário para me tornar um ministro da Nichiren Shu. Em abril de 2008, viajei para o templo natal do meu mestre chamado Enkyoji localizado na Prefeitura de Saga no Japão, para submeter-me a Cerimônia de Tokudo. Este foi um evento de muita emoção para mim e a quantidade de compaixão compartilhada comigo durante minha permanência no templo foi imensurável. Durante a cerimônia, eu recebi o nome de Dharma Myoran, que significa “uma orquídea maravilhosa”. 

Cerimônia de Docho 

Ao chegar no templo Seichoji, fiquei impressionado com a beleza natural dos arredores. Este era o lugar onde Nichiren Shonin tinha estudado. Na manhã seguinte, nos reunimos para subirmos até o topo da montanha para vermos o nascer do sol. Esse era o mesmo lugar onde Nichiren Shonin entoou o Odaimoku pela primeira vez. Este evento foi muito emocionante para todos nós e marcou o começo de uma vida dedicada a ajudar as pessoas que sofrem. Após deixar o Templo Seichoji, meu mestre e eu viajamos para Minobusan para reportarmos a Nichiren Shonin que eu tive minha Cerimônia de Docho. Esta experiência foi muito calma e pacífica para mim. Eu finalmente tinha encontrado a joia oculta que sempre esteve comigo. Mãos em Prece (Gassho).

(*) Artigo publicado no Nichiren Shu News em fevereiro 2009 traduzido pela equipe de tradutores da Nichiren Shu Brasil em 04/03/2019

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