Por Reverendo Ryuei McCormick

As pessoas podem se surpreender ao saber que em várias ocasiões Buda Shakyamuni rejeitou a visão de que tudo é determinado pelo karma. Em um desses casos, o andarilho Sivaka perguntou ao Buda se tudo o que uma pessoa vivencia é consequência do que foi feito no passado. Em sua resposta a Sivaka (Discursos Conectados 36.21), o Buda apontou uma variedade de outras causas e condições além do karma, que contribuem para o que é vivenciado no presente. Os comentários no Cânone Pali sobre os discursos do Buda elencaram posteriormente cinco tipos de causalidade: (1) mudança inorgânica, (2) processos biológicos, (3) processos mentais não volitivos, (4) atividade volitiva e (5) atividade altruísta dos seres despertos. É o quarto tipo de causa, atividade volitiva, que se refere à lei do karma, na qual ações benéficas conduzem a resultados auspiciosos e ações maléficas conduzem a resultados insatisfatórios.

Nichiren Shonin também reconheceu que karma não era a única causa de infortúnios e dificuldades. Na carta, Uma Reposta ao Sacerdote Laico Lorde Ota (Ota Nyudo-dono Gohenji), Nichiren Shonin escreveu sobre as causas da doença para um seguidor laico doente. Ele citou o ensinamento do Grande Mestre Tiantai no “A Grande Calma e Contemplação”  de que existem seis causas possíveis:  (1) desarmonia entre os quatro elementos (terra, ar, fogo e água), (2) comer e beber sem moderação, (3) prática meditativa inconsistente, (4) problemas causados por um demônio, (5) ações de um demônio celestial e (6) retribuição cármica.

Podemos encontrar maneiras diferentes de classificar ou nomear os fatores que causam doenças em oposição às categorias budistas eruditas medievais (por exemplo, podemos falar sobre estresse e toxinas no ambiente, ao invés de demônios para exemplificar), mas a questão é que, de acordo com os ensinamentos de Buda Shakyamuni, Grande Mestre Tiantai e Nichiren Shonin, os fenômenos têm uma variedade de causas e condições, das quais o resultado do karma passado é apenas um colaborador. O fruto do karma pode ser um fator decisivo e mais relevante em muitos casos, porém, não é algo que deveríamos acatar sem o parecer de um sábio, de um bodhisattva avançado ou de um buda.

Dado que as circunstâncias presentes tenham sido no mínimo determinadas por ações passadas, o ponto importante a entender como praticantes budistas é que, a cada momento, temos a liberdade de definir nossas ações presentes. Podemos optar entre reforçar padrões cármicos arraigados e nos vincular mais estreitamente a padrões prejudiciais de causa e efeito, ou podemos criar novas maneiras mais libertadoras de estar no mundo e cultivar padrões saudáveis de causa e efeito que definitivamente nos livrarão daqueles padrões cármicos antigos. Nossa prática de recitar o Odaimoku visa nos ajudar a desenvolver a sabedoria para cultivar uma trajetória mais responsável, desperta e livre oportunamente.

(*) Texto publicado no Nichiren Shu News e traduzido pela equipe de traduções da Nichiren Shu Hokekyo do Brasil em dezembro de 2019.

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