Por Reverendo Shinkai Oikawa, Litt. D.

As Missões de Shakyamuni e sua Entrada no Nirvana

Contos dos Infernos: Esta é a última das minhas palestras. Vou começar pelos contos dos infernos. Eu escrevi sobre “Shakyamuni” e “os infernos” para uma revista há poucos dias. Para falar a verdade, foi muito difícil para mim escrever sobre os infernos. Não sei muito sobre os infernos porque nunca estive lá.

O que escrevi foi que não sei se Shakyamuni realmente conheceu “os infernos” e “os prazeres extremos” ou não. Diz-se que os infernos são lugares muitos pesados. Primeiro que é uma pena de prisão muito longa. Um período de prisão nos infernos leva muitos kalpas (aeons*) até acabar.

Consta que um kalpa (aeon*) é um período muito mais longo do que a duração de um lote de sementes de gergelim carregado numa carroça quando uma semente é retirada por vez a cada cem anos. É um período muito mais longo do que imaginamos.

“Asamkhya kalpa” é uma unidade de tempo. “Asamkhya” significa “incontável” na língua indiana. Logo “Asamkhya kalpas” significa incontáveis kalpas. É quase um algarismo astronômico, não é? Nós dizemos alguns cem milhões de anos-luz. É o tempo que a luz das estrelas leva para chegar aqui na terra. Um ano-luz é uma unidade da velocidade da luz. Nós podemos ver a luz de uma estrela por muito tempo depois do seu começo. Portanto, “Asamkhya kalpa” é um período incrivelmente longo.

A unidade de tempo no budismo é muito mais longa do que a expectativa de vida humana e, inclusive, mais longa do que os algarismos astronômicos. Na verdade, não consigo entender tais unidades de tempo. Logo, me sinto desorientado. Os infernos são os mesmos.

Uma pessoa é mantida aflita com dores constantes nos infernos por um período inimaginavelmente longo. Também, as punições são muito terríveis por lá. Por exemplo, “ken-yo-rin” ou “floresta de folha de espada” nos infernos é onde há muitas arvores com espadas.

Mulheres atraentes ficam nos topos das arvores. Muitos prisioneiros lascivos do inferno escalam as arvores por causa dessas mulheres bonitas sem olhar em volta. Dado que todas as folhas das arvores são tão afiadas quanto lâminas de barbear, eles escalam as árvores com seus corpos ensanguentados.

No momento em que os homens chegam ao topo, as mulheres se movem para o chão numa fração de segundo e os convidam a descer. Durante todo o dia esses homens descem ao chão e sobem ao topo da arvores novamente cobertos de sangue até que seus corpos sejam cortados em pedaços. Infelizmente os prisioneiros do inferno não morrem de jeito nenhum. Eles são revividos diariamente e fazem as mesmas coisas repetidamente.

Se eu refletir sobre mim com cuidado, isso se assemelha a minha vida. Tenho medo de estar repetindo ações estupidas semelhantes sem aprender minhas lições ao longo da minha vida. Por isso me pergunto se minha vida pode ser o inferno neste mundo. De qualquer maneira, os prisioneiros nos infernos são torturados por bastante tempo.

(*) período longo ou uma eternidade (Wikipedia)

O Budismo é infinito? Uma das características do Budismo é trazer à tona assuntos tais como: muito tempo e quantidades incontáveis. Um exemplo são os “Quatro Grandes Votos”.

Afirma-se, “Os seres são inumeráveis, faço voto de salvá-los”. “Seres” são os seres humanos como nós ou seres vivos. Eles são inumeráveis e infinitos ou ilimitados. Não tem um fim. É extremamente difícil de salvar tantos seres incontáveis.

Em seguida, recitamos, “Nossos desejos são inexauríveis. Faço voto de extingui-los”.  Os maus desejos que ocorrem em nossos corpos ou os desejos que ansiamos são inúmeros e incontáveis.

O terceiro voto é “Os ensinamentos de Buda são imensuráveis, faço voto de aprendê-los”. Visto que os ensinamentos de Buda são imensuráveis, eles nunca terminam. Aprender um ensinamento após o outro acontece permanentemente.

O último voto é “O caminho de Buda é insuperável. Faço voto de entrar no sublime caminho”. “O caminho do Buda” é supremo. É impossível chegar ao topo, mesmo que tentemos ir o mais longe que pudermos. Todas as promessas se referem a coisas infinitas e inumeráveis. Realmente não sabemos o que fazer.

Hoje recitamos o sutra e lemos a “Duração da Vida do Buda” no décimo sexto capítulo do Sutra do Lótus. Este sutra é exatamente o mesmo. Para começar, o capítulo diz que “Desde que alcancei a Budeidade* o número de “kalpa” que se passou é imensurável: centenas, milhares, dez mil, milhões, trilhões de anos “Asamkhya”. O número de “kalpa” que passou é infinitamente trilhões aqui.

Como eu disse antes, um “kalpa” é um período muito mais longo do que a duração de um lote de sementes de gergelim carregado numa carroça quando uma semente é retirada por vez a cada cem anos. E mais, o número do “kalpa” é imensurável: trilhões de “Asamkhya”.

Não conseguimos imaginar há quanto tempo foi. Eu até me atrevo a pensar que isso explica sobre a época em que a terra surgiu do caos antes do nascimento dos seres humanos. Ocorre que entro em pânico e não consigo compreender isso quando ouço a palavra “kalpa”.

O décimo sexto capítulo do Sutra do Lótus, assim continua, “Permanentemente Eu tenho pregado o Dharma e instruído incontáveis bilhões de seres vivos”. Isto significa que o Buda tem pregado por muito tempo sem morrer para instruir incontáveis bilhões de seres vivos.

Esta é um sutra característico do Budismo, especialmente do Budismo Mahayana. O Sutra do Lótus é o sutra do Budismo Mahayana. O Buda do Sutra do Lótus tem acudido os seres humanos desde um passado imensurável. No entanto, o Buda que mencionei nas duas palestras anteriores não é este Buda, mas é o Buda que nasceu, viveu e morreu com oitenta anos de idade na Índia e nunca mais apareceu.

Shakyamuni nasceu na Índia aproximadamente há 2.500 anos atrás. Alcançou a iluminação espiritual com 35 anos de idade e faleceu aos 80 anos de idade. Ele circulou pela Índia durante 45 anos acudindo as pessoas. Ele repousava com sua cabeça em direção ao norte e do lado direito quando faleceu entre duas arvores Sal em Kusinagar. Portanto, hoje vou falar-lhes sobre os últimos anos da vida de Shakyamuni. Shakyamuni começou a pregar seus ensinamentos quando foi invocado fortemente pelo Rei do Céu de Brahma dizendo “Visto que você está iluminado, eu quero que você seja bondoso suficiente para nos salvar”.

(*) Condição do ser que se torna um Buda ao alcançar a suprema sabedoria do nirvana, a extinção total do sofrimento. (Dicionário Webix)

As atividades missionárias de Shakyamuni: Involuntariamente Shakyamuni iniciou atividades missionárias para acudir as pessoas. A princípio, ele relutou bastante porque ele não queria fazer. Ele refletiu, “Sinto-me muito bem. Eu não me importo de morrer agora”, quando alcançou a Budeidade. Isto é chamado “nirvana”. Então, o Rei do Céu de Brahma implorou-lhe por três vezes: “Você poderia, por favor, usar seu grande poder para acudir as pessoas depois de atingir a iluminação?” Não podendo recusar esta invocação, Shakyamuni começou a fazer atividades missionárias com relutância.

Shakyamuni teve cinco ascetas companheiros com quem ele buscou a iluminação por seis anos.  Ele foi procurá-los achando que os ascetas O conheciam bem por terem vivido e praticado juntos. Ele tentou começar a pregar seus ensinamentos para eles. Os cinco ascetas moravam em Migadaya, próximo a Varanasi (Benares), agora chamada Sarnath, que significa Parque dos Gamos (Deer Park). Ele ministrou-lhes seus ensinamentos lá. Isto é chamado “O Primeiro Giro da Roda do Dharma”. Portanto, Shakyamuni colocou em movimento a Roda do Dharma ao fazer seu primeiro sermão para os cinco ascetas. Esta foi sua primeira atividade missionária. Ele prosseguiu dando seus sermões em muitos lugares desde então.

A sangha de Shakyamuni crescia rapidamente, embora no início era muito pequena. Naquela época havia muitos tipos de religiões na Índia com bastantes discípulos e devotos que pertenciam aquelas sanghas.

Três irmãos chamados Kassapa (Kashou) que moravam em Uruvela (Urubinra = madeira ascética) e tinham grande poder, reuniam muitas pessoas ensinando bramanismo. Consta que eles tinham 1.500 discípulos.  Shakyamuni foi até eles e tornou a todos seus seguidores. Ele foi visitar o irmão mais velho, Uruvela-Kassapa, e pediu-lhe uma noite de hospedagem no seu templo. Uruvela-Kassapa respondeu, “Sim, tudo certo. Você pode ficar lá, mas há uma terrível serpente venenosa que habita lá. Você pode ficar lá se você não se importar”. “Eu entendo, vou ficar lá, obrigado”, disse Shakyamuni. Foi então que apareceu uma enorme serpente. Shakyamuni demonstrou muitos poderes espirituais. O mais forte destes poderes era chamado “metta” que significa “compaixão” ou “piedade”. Este poder espiritual demonstrou um coração compassivo como um fogo intenso que tornou a serpente inofensiva. Shakyamuni passou a noite em segurança naquele templo.

Shakyamuni teve muitos poderes espirituais geralmente explicados como “os três conhecimentos transcendentais e as seis aptidões transcendentais”. Uma delas é aptidão de conhecer as vidas anteriores dos outros. Conhecer a vida anterior de alguém significa saber como a pessoa viveu em uma existência anterior.

Uma outra aptidão é saber corretamente como alguém vive, principalmente, se a pessoa enfrenta alguma dificuldade ou está feliz ou doente ou se a vida familiar está quase se desfazendo ou não.

A outra aptidão é saber para onde se vai depois que alguém morre, por exemplo, saber se a pessoa irá para o Céu, Paraiso ou a Terra Pura devido sua boa conduta ética. Sabe-se também que a pessoa poderá renascer em um mundo de animais tais como dos elefantes, leões, tigres, porcos ou cães. Embora digam que Shakyamuni tinha tais aptidões, eu tenho medo de não saber como elas funcionavam porque não as tenho.

No entanto, um dos meus professores, Kogen Mizuno, que ainda é forte e saudável em quase 103 anos de idade, diz que podemos enxergar as vidas passada e presente de alguém se praticarmos asceticismo até certo ponto, mesmo que não conseguimos praticar aquelas coisas incríveis mencionadas nos sutras, aparentemente contrárias as leis físicas.

Concordo plenamente com meu professor. Existem muitas pessoas que são particularmente sensíveis ao mundo espiritual. Posto que não tenho esse tipo de sensibilidade de jeito nenhum, algumas vezes me pergunto se aquelas pessoas têm realmente essa capacidade. De qualquer modo Shakyamuni tinha tais capacidades e pregou seus ensinamentos fazendo o melhor uso delas. Pregar seus ensinamentos significava salvar as pessoas.

Shakyamuni continuou pregando seus ensinamentos sem descanso ao longo de sua vida. Ele se empenhou para pregar seus ensinamentos e deixar que as pessoas os conhecessem pelo resto de sua vida. Ele acudia as pessoas usando estes poderes estranhos em muitos lugares. Mas, suponho que ele necessariamente não precisava usá-los o tempo todo porque ele era muito bonito e bem moldado do topo da sua cabeça até a sola do pé, com a assim chamada “As Trinta e duas Marcas” de excelência física. De modo especial, consta nos sutras que ele tinha uma pele dourada, reluzente como ouro. Embora mulheres de pele branca possam ser consideradas bonitas no Japão, vemos pessoas de pele dourada e não brancas na Índia. Suponho que esta cor seja a melhor. Vocês poderão encontrar templos dourados no Sudoeste Asiático e todas as estátuas de Buda são douradas.

Um dia com Shakyamuni: Shakyamuni continuou suas atividades missionárias intensamente desta maneira. A sangha crescia aos poucos e o número de discípulos ultrapassava 1.500 ou 3.000 ou mais, então, ele ficava muito ocupado. Imagino como Shakyamuni viveu até os oitenta anos de idade. Portanto, eu gostaria de contar-lhes como ele se ocupava na sua rotina diária, ou seja, o que ele fazia desde levantar-se de manhã até se recolher à noite, é o que abrange este capítulo.

Shakyamuni se levantava de manhã cedo, lavava seu rosto como fazemos e se limpava. O que ele fazia de manhã cedo? Ele se sentava em meditação ao amanhecer e se vestia para sair depois de meditar. Ele não precisava usar muitas roupas porque fazia calor na Índia. Ele vestia seu manto amarelo e saia para esmolar comida. Isto é chamado mendicância religiosa. Eu também fiz essa prática de andar pela cidade esmolando por comida com uma tigela em mãos. Os monges ainda hoje fazem essa ronda de esmola de alimentos na Tailândia e Burma (presente Myanmar). Eles recebem a comida aos poucos. Por isso, eles têm que andar pela cidade por um longo tempo para conseguir comida suficiente.

Não é permitido ignorar uma casa. Por exemplo, há três casa do Sr.Sato, Sr.Nakamura e Sr.Kimura. Se o Sr. Nakamura sempre oferece comida malfeita, nós tendemos achar que não haverá problema se o ignorarmos. Isto é inaceitável. É um princípio seguir a ordem regular. Portanto, os monges budistas comem uma mistura de comida malfeita e boa comida. As vezes eles têm que comer alguma comida cheirando mal que é a sobra do dia anterior. Porém, eles são proibidos de rejeitar qualquer comida a qual deve ser recebida com agradecimentos. Eles comem a comida misturada. A ronda de esmola termina por volta das 11H00 da manhã.

Os templos budistas devem estar localizados próximo as aldeias. Demora muito tempo para conseguir comida se os monges estiverem longe das aldeias. Os templos devem ser construídos cerca de mais ou menos um quilometro de distância das aldeias. Mas como não é muito conveniente para os monges praticar asceticismo por causa dos vários ruídos, é um princípio construir templos a pouca distância da aldeia.

Quando Shakyamuni saia para fazer a ronda de esmola de alimentos ocorriam vários milagres. Primeiro soprava uma brisa suave e agradável. Depois caia uma chuva que assentava a poeira. Flores bloqueavam o calor formando uma cobertura no céu. Atualmente os monges budistas espalham “flores divinas” nas cerimônias, mas não são genuínas, são flores de papel. No caso de Shakyamuni, bastantes flores genuínas caiam do céu e cobriam o solo como um tapete.

Diz-se que Shakyamuni era uma pessoa maravilhosa que desconhecia a escuridão. Uma luz com seis cores emanava do corpo dele brilhando como uma lanterna elétrica. Portanto, ele não se importava com a escuridão. E mais, pássaros cantavam alegremente ao redor dele.

Como Shakyamuni era acompanhado de milagres tão maravilhosos, as pessoas preparavam comida para oferecer-lhe na ronda de esmola de alimentos. Ele se alimentava antes do meio dia. A hora era fixada antes das 12H00. Ele fazia apenas uma refeição por dia e não comia nada além desta refeição pela manhã.

Os monges budistas dos tempos antigos faziam apenas uma refeição por dia. Shakyamuni repousava em seguida. Ele sempre fazia um retiro individual ao meio-dia chamado “divavihara” depois da refeição.

Desconfio que Shakyamuni tinha um estomago delicado. Ele descansava um pouco depois de fazer uma pequena refeição. Todos os monges indianos dos tempos antigos tiravam um cochilo, sem exceção, achando que podiam fazer o que o Buda fazia.

Eu também tirava um cochilo quando estava no Sri Lanka. Sinceramente eu fazia uma refeição diária porque eu conseguia passar o dia com apenas uma refeição. Eu me sentia bem após a refeição e adormecia logo depois de me deitar. Me pergunto por que razão fui ao Sri Lanka. Certamente que não foi apenas para cochilar.

É hora de pregar depois do “divavihara”. Faz muito calor na Índia. Então os monges não ficam bem-dispostos durante o dia. Os eventos religiosos ainda começam à noite em países tais como a Índia, Sri Lanka (Ceilão) e Myanmar (Burma) porque o dia é hora de dormir. Sopra uma boa brisa à noite depois do repouso. Então, se inicia a pregação.

Os monges eram aconselhados a retornar para seus lugares e refletir sobre a pregação. Naquela época, eles não tinham casa para morar. Muitos deles viviam debaixo de arvores ou em cavernas para se protegerem da chuva e do vento. Existe uma caverna no topo da Montanha da Águia Sagrada que pode ter sido usada para protegê-los da chuva.

Shakyamuni examinava o mundo com seus olhos sobrenaturais chamados de “o olho divino” depois de pregar. Ele mirava uma pessoa em algum lugar no mundo, e verificava se tal pessoa poderia ou não ser salva caso ele a procurasse. Em seguida, ele elaborava um plano para chegar até ela no dia seguinte.

Pessoas das aldeias e das cidades vinham até Shakyamuni trazendo flores à noite. Elas pediam para Shakyamuni pregar. Era hora de tomar banho depois disso. Ele tomava banho na água, não um banho como o nosso, mas para se limpar. Isso é um dos costumes indianos.

Eu tomava banho de água no Sri Lanka. No começo eu achava que poderia tomar o mesmo banho que no Japão, porque eu não sabia como deveria tomar banho. Fui até um poço e tirei minhas roupas. Então, os aldeões se reuniram em volta, me observando como se estivessem pensando que eu fosse um monge estranho. Eu me perguntava por que eles me observavam enquanto eu estava apenas tomando um banho. Um monge correu até mim, alertando “Não faça isso”. Quando lhe perguntei “O que há de errado comigo?”. Ele respondeu, “Cubra a cintura com um pano”.

No Sri Lanka, eles têm um costume de tomar banho com um pano envolvendo a cintura. Eu disse a ele, “Neste caso não consigo me lavar da cintura para baixo”. Ele respondeu “Você consegue se tentar”. Fiquei profundamente constrangido a princípio.

Quando meu amigo do Sri Lanka veio ao Japão, eu tive um pequeno problema com ele. Fomos a uma fonte termal na cidade de Izu. Embora eu o convidei para tomar um banho quente na fonte, ele rejeitou meu convite fortemente. Mas depois ele mudou de ideia e entrou hesitante na fonte depois de mim com um pano envolvendo sua cintura. Eu lhe disse para tirar sua cueca em vão. Quando lhe perguntei se ele tinha cuecas de reserva, ele respondeu que não as tinha. Eu não sabia o que fazer pois ele estava todo molhado e solicitou calças secas a proprietária da pousada. Cada país tem seus costumes.

Uma certa pessoa quis ser discipula e real seguidora de Shakyamuni. Ela disse que entendia as trinta marcas maravilhosas, mas não conhecia as outras duas marcas e pediu para vê-las. Possivelmente Shakyamuni teve dificuldade com esta questão porque ele nunca tinha mostrado as duas marcas para ninguém.

Ele mostrou sua língua que alcançava sua testa. É muito longa, não é? Contudo, ele não mostrou o resto, mas apenas sua sombra dizendo, “Adivinha, olhando para isto”.

Quero lhes dizer que os srilankeses costumam se lavar dessa maneira, embora eu tenha vacilado na minha conversa.

O Buda se sentava sozinho, sentindo-se revigorado. Ele passava a noite assim. Quando ele dormia então? Se ele não dormisse, ele teria um colapso.

Como lhes disse anteriormente, uma noite era dividida em três partes de quatro horas cada por doze horas, entre 6H00 da manhã e 6H00 da tarde, na Índia antiga. As quatro primeiras horas eram chamadas de “a primeira noite”. Quando vocês se casam, há “a primeira noite” que é apelidada de a memorável primeira noite. “A primeira noite” no budismo indiano vai das 18H00 até as 22H00. Era difícil dormir naquela época porque Shakyamuni passava o tempo todo dando aos discípulos alguns conselhos sobre seus problemas entre outras coisas para consultar.

Shakyamuni dormia por quatro horas, ou seja, entre 22H00 e 02H00 durante a “meia noite” para preservar sua saúde e porque ele fazia várias coisas após um breve sono. Falando francamente, ele dormia por quatro horas a noite e nas 20 horas restantes, ele trabalhava por 19 horas, exceto para tirar um breve cochilo.

Todas as pessoas tinham que caminhar nos tempos antigos. Shakyamuni andava todo o caminho até o próximo lugar. A distância padrão para andar um dia era de 10 km. Isto é chamado “Yojana” na língua indiana ou “yujun” nos sutras japoneses, significando 10 km. O Buda viajava a pé, cerca de 10 km por dia, para acudir muitas pessoas. A seguir, vou contar-lhes como ele salvava as pessoas. 

Um Conto de Anglimala: O Buda guiou muitas pessoas por vários expedientes. No caso de um homem chamado Anglimala, por exemplo, ele era um homem infeliz que estudava o bramanismo. A esposa do professor dele o seduziu enquanto o marido dela estava fora. Ele a conteve prontamente, dizendo, “Por favor, não se exceda, não posso fazer tal coisa com a esposa do meu professor”. Quando o marido dela chegou em casa, ela inventou uma mentira absurda alegando que Anglimala a violentou. O professor ficou com raiva, mas não poderia punir Anglimala porque seu discípulo era mais excelente do que ele mesmo, em tudo, incluindo a força física e a capacidade cerebral.

Em seguida, o professor bolou um plano maligno e disse, “Anglimala, você fez muito bem. Mas se você quer terminar o curso perfeitamente, vou terá que fazer o último trabalho. De hoje em diante, saia as ruas com esta espada, mate pessoas, corte lhes os dedos, faça um colar com cem dedos e o traga para mim. Então, eu permitirei que você termine o curso completo”.

Anglimala estava angustiado. Mas ele, contra sua vontade, decidiu cumprir essa ordem dada pelo seu professor e começou a aterrorizar toda a cidade. A notícia chegou rápido até Shakyamuni. Ignorando as tentativas dos seus discípulos de detê-lo, Shakyamuni foi ver Anglimada dizendo, “Isto é absolutamente ruim. Devemos imediatamente impedi-lo de fazer uma coisa tão terrível”.

Anglimala correu atrás de Shakyamuni para cortar os dedos dele achando que um bom jogo se aproximava. No entanto, ele não conseguia alcançá-lo de jeito nenhum. Shakyamuni era muito mais rápido do que ele. Incapaz de alcançá-lo, Anglimala pediu que ele parasse. Shakyamuni disse “Estou parando”. Embora ele parou, a distância ente ele e Anglimala nunca encurtou. Shakyamuni perguntou a Anglimala, “Por que você não consegue me alcançar apesar de estar correndo? Eu estou em pé e em silêncio”. Anglimala respondeu, “Por que você alega que está em pé embora esteja andando?”. Shakyamuni replicou, “Eu já extingui qualquer desejo de matar e ferir todos os animais ou seres vivos. Eu nunca tenho essa intenção. Portanto, meu coração está parando ou não batendo. Mas você não pode ter em mente cortar suas cabeças e tirar seus dedos sempre que você vê pessoas. Você está muito ansioso para me matar rapidamente. Estou apenas olhando para você enquanto você diz, “Pare! Pare!” Embora você diga “Pare! Pare!” parar, na verdade, é que seu coração pare. Você não para!  Isso significa que seu coração não para”.

Então, Anglimala ficou surpreso e se arrependeu do que fez, abrindo seus olhos espirituais. Ele se tornou um monge dizendo “Eu cometi erros muito indesculpáveis. Por favor, permita-me ser seu discípulo”. Foi bom que ele se tornou um monge. Mas um monge tem que sair para esmolar. Ele tem que esmolar por comida. Os aldeões deram-lhe uma surra completa, gritando violentamente, “Você continuou a matar nosso povo e coletar seus dedos até ontem. Hoje você é um monge que parece ser piedoso e louvável”.

Anglimala relatou este problema para Shakyamuni. Então, Shakyamuni lhe disse, “Não há nada que você possa fazer exceto suportar isso inteiramente. Tolerar sem se queixar. Você cometeu cada maldade correspondente com tal repreensão. Você matou pessoas. Então você deve enfrentar isto”. Shakyamuni deu uma ordem muito severa. Diz-se que Anglimala teve que suportar a violência dos aldeões e se tornou um monge distinto.

(*) Textos publicados no Nichiren Shu News de junho, agosto, outubro e dezembro de 2009 e traduzidos pela equipe de tradução da Nichiren Shu Brasil em julho de 2019.  

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