Vamos abordar outra das seis práticas dos Bodhisattvas. As seis práticas são doação, preceitos, tolerância, esforço, meditação e sabedoria. Vamos rever o que aprendemos na edição passada. O caminho budista de se esforçar não é tentar demasiadamente em um único momento, mas sim, tentar constantemente como a água corrente. Desta vez, vou discorrer sobre a prática da meditação.

Por vezes, cantamos uma canção chamada “Meditação Correta”, no início das cerimônias de domingo, não é? E nós realmente meditamos em silêncio durante a prática de Shodaigyo realizada uma vez por mês, antes e depois de recitar de Namu-Myoho-Renge-Kyo. Tenho certeza que a maioria das pessoas acha que meditação é se sentar calmamente por algum tempo. Na realidade existem dois tipos de meditação no budismo, que são: “zen imóvel” e “zen em movimento”.

O “zen imóvel” é exatamente o que fazemos antes e depois de recitar Namu-Myoho-Renge-Kyo na prática de Shodaigyo. Gostaria de explicar como meditar de forma mais eficaz. Quando se pratica “zen imóvel”, senta-se no chão ou em uma cadeira, endireita-se a coluna como se estivesse sendo puxada para cima por uma corda conectada no topo da cabeça e se relaxa o ombro. Faça uma forma circular com as duas mãos no estilo “Hokkaijoin” (pôr a mão esquerda sobre a sua mão direita com os polegares se tocando levemente) e as coloque em seu colo (na altura do abdome). Feche os olhos levemente (semicerrados). Então, esse é o ponto mais importante da meditação: Respire fundo, segure e solte o ar muito lentamente. Tente visualizar a respiração, como inala e como expira. Essa é uma forma de disciplinar a concentração durante a meditação. Tente focar a respiração (Ki) na parte inferior do seu estômago. Os iniciantes podem praticar em um ambiente silencioso, onde nada pode incomodar, onde é possível se concentrar com facilidade. Quando se acostuma a fazer assim e é capaz de se concentrar facilmente durante a meditação, então, é possível tentar fazer em lugares mais ruidosos. Se ainda pode se concentrar em meditação, mesmo em um ambiente barulhento, somos capazes de meditar em quaisquer outras circunstâncias. Isto é o mais básico sobre a “meditação sem se mexer”.

Recitar Namu-Myoho-Renge-Kyo é também uma forma de “zen imóvel”. É um pouco mais fácil do que meditar em silêncio, porque é possível apenas concentrar-se na recitação e a recitação pode ajudar a se concentrar e respirar regularmente.

Há uma outra maneira mais difícil de meditação, que é chamada de “zen em movimento”. Isso é ainda mais difícil do que o “zen imóvel” em um ambiente ruidoso. Em suma, enquanto se está fazendo atividades cotidianas, como andar, comer ou trabalhar, embora o corpo esteja em movimento, a mente permanece em meditação. Se a mente está calma e estável em qualquer circunstância e não é influenciada por qualquer impulso emocional, como a raiva, ganância ou ódio, é possível avaliar melhor e mais corretamente todas as coisas. Isso é fácil de dizer, mas muito difícil de fazer. Por isso, os novatos precisam do apoio da recitação do Namu-Myoho-Renge-Kyo para evitar que se distraiam com suas emoções e pensamentos.

Basta recitar Namu-Myoho-Renge-Kyo uma única vez em silêncio ou em voz alta para impedir de entrar em pânico ou de ser dominado por essas emoções. No entanto, como se sabe, os seres humanos são seres muito emotivos. Então, pode- se deixar sair do estado meditativo algumas vezes, ou melhor, na maioria das vezes. Mas, assim está bem. Esta é uma prática de Bodhisattvas, ou seja, muito difícil. O caminho é mais importante do que o destino. Então, como falamos da última vez sobre o caminho budista do esforço, não vamos tentar severamente. É possível experimentar um passo por dia e continuar tentando. Essa é a prática da meditação.

Até o momento vimos cinco, das seis práticas dos Bodhisattvas:

  1. A prática da doação, não “dar e receber”, mas “dar e dar” que naturalmente nos torna capaz de conquistar algo muito maior do que aquilo que temos dado, mesmo que não esperemos nada de volta.
  2.  A prática da disciplina, que em nossa escola consiste de apenas um preceito, que é recitar Namu-Myoho-Renge-Kyo, e que naturalmente nos possibilita saber o que é adequado e o que não é em cada situação.
  3. A prática da tolerância é mudar a si mesmo ao invés de tentar mudar os outros. O verdadeiro inimigo está dentro de nós mesmos e não em qualquer outro lugar.
  4. A prática do esforço não é exagerar, sendo demasiadamente rígido, como uma rápida chama que se acende com intensidade e que logo se apaga, mas experimentar um passo por dia constantemente como a água fluindo em um pequeno córrego. A água do pequeno córrego no final das contas flui para o grande oceano.

Agora vimos sobre prática da meditação. Já é possível perceber que todas essas práticas estão relacionadas entre si. Tente praticar o “zen em movimento” em sua vida diária. Se a sua mente é capaz de estar em meditação, você pode ser generoso para com os outros, analisar todas as questões e todas as coisas corretamente, mudar você mesmo e tentar agir como um constante fluxo de água. Não se preocupe, mesmo se você pensar que falhou. Basta recitar Namu-Myoho-Renge-Kyo e tentar de novo. “Namu” significa “dedicar-se“. “Myohorengekyo” é o nome do Sutra do Lótus que, para nossa Escola, é o mais sublime ensinamento de Buda Shakyamuni e que pode dar a inspiração necessária para superar as dificuldades.

Na próxima oportunidade, vamos falar sobre a última das seis práticas: a prática da “sabedoria”.

 

*tradução de texto do Rev. Imai da Nichiren Shu Havaí

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