Derrotado por Nichiren no desafio da oração pela chuva, Ninshō 忍性 (também conhecido como Ryōkan 良観, monge da Escola Shingon–Ritsu) caluniou Nichiren às principais figuras do Xogunato de Kamakura. Sendo ameaçado pela crise da invasão Mongol, o governo militar não podia ignorar a crescente popularidade de nosso Fundador.
Por volta das 16:00 horas no 12º dia do nono mês de 1271, Hei-no-Sae-mon, um alto funcionário do xogunato, acompanhado por muitos soldados, invadiu a ermida de nosso Fundador e o prenderam. Amarrado com uma corda, nosso Fundador foi levado a cavalo para o local da execução como um grande criminoso. Quando o grupo chegou perto do santuário de Hachiman-gu (八幡宮) em Kamakura, Nichiren solicitou aos soldados para que parassem e o tirassem do cavalo.
De frente para o santuário, Nichiren gritou:
– “Fui preso só porque eu estava fazendo o meu melhor para espalhar o Sutra do Lótus! Você, Grande Bodhisattva Hachiman, jurou proteger o crente do Sutra do Lótus! Por que você não me protege?”
Em seguida, ele voltou ao cavalo. O local da execução era localizado à beira-mar de Tatsunokuchi (龍ノ口法難) nos arredores de Kamakura, de frente para a Ilha de Enoshima (江の島). A execução por decapitação foi programada para ocorrer cerca da 1:00 hora da manhã do décimo terceiro dia. A sentença para para ele fora o exílio para a Ilha de Sado (佐渡市). No entanto, planejaram decapitá-lo tarde da noite. No momento em que a execução estava prestes a ser realizada, um fenômeno natural extraordinário ocorreu, forçando-a a ser suspensa. Mais tarde, a execução de Nichiren Shonin foi formalmente suspensa graças à petição feita por seus discípulos e seguidores leigos. Nichiren foi levado para Echi (cidade de Atsugi hoje) para ser banido para a Ilha de Sado.
De acordo com a lenda, Nichiren protestou ao Grande Bodhisattva Hachiman quando ele passou na frente do Santuário Hachiman-gu em Kamakura, perto da atual “Akahashi”. Isso é historicamente evidente. Em seguida, o grupo que escoltava nosso Fundador passou por Hase (長谷寺) e chegou em frente ao Santuário Goryo (御霊神社) . Ao receber uma mensagem de nosso Fundador, Shijo Kingo (四条金吾 ? -1296), que morava perto, correu para ver Nichiren. Ele agarrou-se ao cavalo, e se ofereceu para acompanhá-lo na morte.
O grupo que escoltava Nichiren passou o desfiladeiro do Templo Gokuraku-ji (極楽寺) e chegou à praia de Shichiri-ga-hama (七里ヶ浜). Quando chegaram perto de Inamura-yama, Nichiren tirou seu kesa e o pendurou em um pinheiro (conhecido como Nichiren Kesagake no Matsu 日蓮袈裟掛けの松) porque ele não queria ter seu único manto manchado de sangue após a execução. Os restos mortais do pinheiro permanecem até hoje.
O grupo chegou a Tsumura, onde morava uma senhora idosa com cerca de 70 anos de idade, que se tornou uma fervorosa adepta do Sutra do Lótus após encontrar com Nichiren Shonin em Kamakura. Ela vinha recitando o Odaimoku todos os dias desde então. Sentindo-se profundamente triste por Nichiren Shonin, ela fez um bolo de arroz com colocou gergelim com pressa e ofereceu ao nosso Fundador.
Ele ficou satisfeito e comeu. Como Nichiren escapou da decapitação, as pessoas chamam este bolo de arroz “bolo de arroz que salvou o pescoço do Fundador”. Assim, bolos de arroz com gergelim são servidos nas cerimonias memoriais da Nichiren Shu. Outra lenda diz que quando ela tentou oferecer o bolo de arroz ao nosso Fundador, ela deixou-o cair no chão e ficou coberto com areia. Apreciando sua bondade, Nichiren Shonin comeu, dizendo: “Gergelim dá um bom gosto ao bolo de arroz”. O Templo Ryukoji (龍口寺) está agora no local da execução. A cerimônia que comemora o “bolo de arroz coberto de gergelim” acontece nesse templo. Os cookies de gergelim também estão disponíveis.
A execução de Nichiren foi formalmente suspensa, e foi decidido que ele deveria ser banido para a Ilha de Sado, como havia sido inicialmente condenado. Nichiren foi então levado para Echi (atualmente cidade de Atsugi, Prefeitura de Kanagawa), no caminho para Sado. De acordo com a lenda, foi porque um estranho objeto brilhava sobre as águas costeiras de Enoshima que sua execução foi suspensa. Além disso, há outra lenda que diz que a espada do carrasco foi atingida por um raio e se quebrou em três.
Na realidade, porém, acredita-se que as súplicas realizadas por seus discípulos e seguidores se provaram efetivas. Adachi Yasumori (1231-1285), que era muito influente no xogunato Kamakura, foi amigo de Daigaku Saburo, um calígrafo que era um importante discípulo leigo de Nichiren Shonin. Isso porque Yasumori também gostava de caligrafia. Adachi Yasumori uma vez pediu para Nichiren Shonin realizar uma cerimônia budista para ele.
Hei-no Saemon ordenou a prisão de Nichiren Shonin. Ambos exerciam forte poder no xogunato e se confrontaram. Discípulos e seguidores leigos de Nichiren Shonin agiram rápido e firme para um perdão no pouco tempo de parada de Nichiren antes da execução. É um fato que a execução de Nichiren foi suspensa pelo esforço de figuras de centrais do xogunato que estavam em posição favorável à ele como Adachi Yasumori. O que vem a seguir é a lenda.
Há muito tempo, havia um lago chamado Fukazawa em Tatsunokuchi. Um dragão do mal viveu nele. Esse dragão alimentava-se de crianças. Névoas e nuvens cobriram o mar em torno de Enoshima e houve um terremoto durante o reinado do Imperador Kimmei. De repente, o céu tornou-se muito claro, choveu flores, música foi ouvida e uma donzela celestial desceu do céu. Ela era a deusa Benzaiten da Ilha de Enoshima. Impressionado com a beleza da deusa Benzaiten, o dragão do mal teria proposto se casar com ela. Ela respondeu: “Eu sou uma irmã mais nova da mulher dragão que aparece no capítulo do Sutra do Lótus chamado Devadatta. Eu não posso me casar com você, um dragão mal-intencionado, porque eu estou aqui para proteger o budismo. Vou aceitar a sua proposta se você mudar de ideia e proteger o budismo comigo”. O dragão do mal jurou proteger o budismo então. Diz-se que Tatsunokuchi tornou-se um local de execução porque esse dragão sugava o sangue dos mal-feitores e jurou proteger o budismo.
Muitos discípulos e seguidores leigos recitavam o Daimoku chorando enquanto observavam, a execução estava prestes a ser realizada. Homma Saburo Zae-mon Naoshige (? -1329) de Echi tirou a espada e se preparou para a execução. Mas, ele começou a chorar e disse a Nichiren Shonin: “Eu sei que você é uma pessoa boa. Você não é um ladrão. Você não planeja traição. Você só pregou o Sutra do Lótus. Estou nos anos finais de minha vida. Não quero matar um monge mesmo que seja uma ordem do xogunato. Você deve abandonar o Sutra do Lótus e ter fé no Nembutsu. Se você fizer isso, vou pedir ao xogunato para parar a execução”.
Mas, Nichiren Shonin recusou a oferta dizendo:
– “É com alegria que dedico minha vida ao Sutra do Lótus!”
Naoshige não tinha escolha a não ser começar a preparação para a execução. Em seguida, nuvens de chuva surgiram de repente e fortes ventos sopraram. Grandes gotas de chuva começaram a cair estrondosamente, e grandes ondas subiram no mar. Todas as luzes das tochas se apagaram e cercas e cortinas foram arrancadas pelo vento. Um grande objeto brilhante como a lua cheia apareceu e voou para longe sobre o mar de Enoshima do sudeste para o noroeste. Com toda a sua força, Naoshige levantou a espada, mas sua espada se quebrou em três. Hei-no Saemon e seus trezentos soldados foram surpreendidos e pularam para o lado. Nichiren gritou: “Apresse-se e me executa!”. Mas ninguém se aproximou dele porque ficaram com medo. Logo, o vento e a chuva enfraqueceram e o dia nasceu. Heino Saemon rapidamente disse ao xogunato sobre o ocorrido.
O xogunato realizou uma reunião sobre a execução de Nichiren Shonin. Porque um estranho fenômeno natural tinha acontecido, eles chegaram à conclusão de que ele não deveria ser morto. A carta de perdão foi escrita às pressas e Nanjo Shichiro, um seguidor samurai de Nichiren, correu para o local da execução com ela. O mensageiro de Heino Saemon de Tatsunokuchi também saiu às pressas para comunicar o ocorrido ao xogunato. Nanjo Shichiro encontrou o mensageiro na ponte do rio de Shichirigahama七里ヶ浜 . que veio a ser chamada de Ponte Yukiaibashi 行合川 (“Ponte onde se encontraram”).
Por Rev. Gyokai Sekido, Ph. D.
Fonte: Nichiren Shu News #153 e #154