Kyo’o Dono Gohenji – 経 王殿 御 返 事

Carta de Nichiren Shonin escrita em 15 de agosto de 1273, aos 52 anos de idade. Ichinosawa – Sado, Japão.

Passou-se muito tempo [desde a última vez que nos encontramos], e quando pensava de como eu teria regozijado ter novidades tuas, me enviastes teu mensageiro pessoal [a carta].

nichiren

Recebi teu precioso donativo em prata que, neste momento, é o bem mais precioso de todos os tesouros que se encontra na terra ou no mar. A partir do momento em que tomei conhecimento da situação da dama Kyo´o[1] em tua última carta, orei dia e noite aos deuses do sol e da lua. Conserve sempre contigo o Mahori [Gohonzo][2] que te dei anteriormente e não o abandone jamais, mesmo por um instante. Este Gohonzo[3], nunca foi revelado a ninguém, nem caligrafado no curso dos dois períodos de Shōbō ou Zōbō[4].

Se diz que o rei leão, de início, avança três passos, depois recua um pouco [a fim de resguardar sua energia, a concentração e a decisão para atacar sua presa], empregando a mesma força para capturar uma pequena formiga ou para atacar um animal feroz. Inscrevi este Gohonzon para sua proteção. Nichiren, portanto, agiu como o rei leão. É a frase que lemos no Sūtra Shishi funjin shi Riki (o poder do salto impetuoso de um leão) [5].

Portanto, se vós credes (vós todos), neste mandala de todo vosso coração, Namu Myōhō Renge Kyō sera como o rugido de um leão. Existe, então, uma doença que não possa ser curada?[6]

Aqueles que abraçam e mantem sua fé e sua prática no título do Sūtra do Lótus, serão protegidos por Kishimojin[7] e as dez Damas-demônios.[8]

Estas pessoas usufruirão da felicidade de Aizen[9] e a sorte de Bishamonten.[10] Quando vossa filha se mover e brincar, nenhum mal lhe sera feito. Ela poderá se movimentar sem temor, como um rei leão. Entre as dez Damas-demônios, a proteção de Kunti[11] é a mais importante.

Contudo, isso depende de sua própria fé. Uma espada é inútil nas mãos de alguém inexperiente[12] [arte da esgrima].

Consequentemente, a espada do Sūtra do Lótus deve ser utilizada por aqueles que são verdadeiramente corajosos em sua fé. Assim se tornarão fortes como um demônio armado de um bastão de ferro. Crede neste Gohonzon de todo vosso coração, pois Nichiren nele inscreveu sua vida e sua alma com tinta sumi. O objetivo da vinda do Buda neste mundo é o Sūtra do Lótus, e a alma de Nichiren não é outra senão Namu Myōhō Renge Kyō. Miao Lo[13] afirma nestes comentários, «o coração deste Sūtra é a revelação da iluminação original do Buda e a duração incomensurável de Sua vida». [14]

O mal da dama Kyo’o irá se transformar em felicidade. Te esforce por obter a fé, ore a este Gohonzon. Então, o que seria impossível realizar? Não duvidai destas palavras no Sūtra:

« Jūman gogan, nyo shōryō chi » (este Sūtra satisfaz seus desejos, como um lago claro e fresco satisfaz a todos que tem sede)[15] e “Genze annon, goshō zensho” (Vós apreciais a paz e a segurança nesta vida e beneficiais de boas condições nas existências futuras).[16]

Eu te escreverei novamente. Uma vez que o exílio estiver terminado[17] nesta província, me apressarei em ir à Kamakura onde nos reencontraremos. Se nós acreditarmos nos méritos do Sūtra du Lótus, constataremos sob nossos olhos a existência de uma juventude perpétua e da vida eterna. Contudo, temo que a vida seja de curta duração como o orvalho. Rogo com fervor aos deuses celestes para ajudar a Dama Kyo’o, a fim de que ela possa seguir os passos da dama Jotoku[18] ou os caminhos da filha do rei dragão.[19]

Namu Myō Hō Renge Kyō,
Cordialmente.
Nichiren (em assinatura florea)
15º dia do 8º mês

Tradução em italiano pelo Reverendo Shôryo Tarabini, à partir do Hō’on Oko mensal
Tradução francesa dos praticantes do grupo lyonês da Nichiren Shū.
Tradução ao português Glauco Escórcio de Carvalho.
Nichiren Shu © 2012

  • [1] A Dama Kyo’o era a segunda filha de Shijō Kingo (1230-1296) e de sua esposa, Nichigen-nyo, o principal discípulo laico de Nichiren. O nome e o título completo de Shijō Kingo é Shijō Nakatsukasa Saburō Saemon-no-jō Yorimoto. O título «Kingo» é uma forma abreviada do título oficial de «Saemon-no-jo», tratado na forma simples de Shijō Kingo. Ele foi um samurai especialista nas artes da guerra e da medicina, e servia seu Senhor Ema, que fazia parte da família Hojo, que na época reinava por todo do Japão. Em 1256, ao 27 anos, Shijō Kingo tornou-se um discípulo de Nichiren, no mesmo período dos irmão Ikegami e Kudō Yoshitaka. Em 8 de maio de 1271, Nichigen-nyo, teve seu primeiro filho. O casal desejava filhos há muito tempo, mas não não haviam podido tê-los. Nichiren, então, lhes escreveu uma carta de encorajamento em 07 de maio de 1271 intitulada: «O parto facilita uma criança afortunada», a fim de que eles pudessem conceber um filho, e, algum tempo depois, acontece o nascimento de Tsukimaro, cujo nome foi dado por Nichiren a pedido de Shijō Kingo et sua esposa. Na ocasião do nascimento desta criança, Shijō Kingo tinha 40 anos (considerado muito maduro, na verdade, muito velho para a época). Um ano depois, o casal teve uma segunda filha, cujo nome também pediram que fosse dado por Nichiren, que a chamou de « Kyo’o ». No momento da redação desta carta, a pequena Kyo’o estava gravemente enferma. Apesar do conhecimento de Shijō Kingo que era médico, eles não tinham conseguido tratar a criança com os recursos disponíveis da medicina da época. Movidos pelo desespero, os pais procuram Nichiren e a ele solicitam conselhos através do envio de uma carta por um mensageiro pessoal, ainda que ele estivesse exilado na ilha de Sado. Esta carta escrita aproximadamente dois anos após o nascimento de sua primeira filha, em 15 de agosto de 1273, é intitulada « resposta à família da Senhorita Kyo’o », foi dirigida à uma menina de somente 1 ano, mas na realidade, o conteúdo dos conselhos e dos encorajamentos dirigem-se aos pais.
  • [2] Mahori [Gohonzon] (ま ほり 御 本尊): Indica uma proteção Omamoriお守り御本尊, Gohonzon que Nichiren Shōnin inscrive pessoalmente, com suas próprias mãos, para a mãe e à recém nascida, Kyo’o.
  • [3] Gohonzon (御 本尊): O primeiro mandala Gohonzon chamado Sado Shiken Honzon (佐渡 始 顕 本尊, este Mandala Gohonzon foi revelado pela primeira vez na ilha de Sado). Representa o mundo do Sūtra do Lótus e a Iluminação do Buda atemporal sob uma forma caligrafada. Ele foi escrito por Nichiren durante a mais difícil de suas perseguições, o exílio na ilha de Sado (10 de outubro de 1271 – 13 de março de 1274). Se diz que este primeiro Mandala Gohonzon foi caligrafado, e finalmente revelado por Nichiren Shonin em 8 de julho de 1273, após a composição dos importantes escritos do Kaimoku Shō (abertura dos olhos, Fevereiro de 1272), seguido pelo Kanjin Honzon Shō (objeto de veneração para transcrever a essência da vida, em 25 de abril de 1273). O Sado Shiken Honzon foi conservado no templo Kuon-ji do monte Minobu, mas, infelizmente, foi destruido por ocasião do grande incêndio de 1875. A unicidade do Mandala Gohonzon criada e inscrita por Nichiren, compõe o primeiro objeto de culto do Sūtra do Lótus revelado após a morte do Buda histórico (2500 – 3000 anos), bem como o Sūtra que tem sido venerado no decorrer dos séculos por numerosos mestres budistas, aí compreendidos T’ien T’ai, Miao Lo e Dengyo.
  • [4] Shōbō o Zōbō (正法 · 像 法): São os dois primeiros períodos dos « três períodos » após a morte do Buda histórico. O primeiro destes três períodos é Shōbō (a época do Dharma correto), seguido por Zōbō (Reflexo da época do Dharma) e, por fim, Mappō (a época dos últimos dias do Dharma). Estes três períodos são mencionados no Chūgan Ron Sho (anotações de Chu Ron), Daijō Sanju Sange Sutra (Sutra dos três tipos de prática para o arrependimento) e no Sūtra Daishutsu (Sutra da grande Assembleia). Segundo o Mappō Tōmyō Ki (Tratado sobre a luz para o período do Mappō末法燈明記) do Grande Mestre do Dharma Dengyo; no curso do período do Shōbō, os ensinamentos do Buda são observados corretamente; no período do Zōbō, contudo, os ensinamentos começam a não ser mais observados corretamente, e o espírito do budismo é corrompido. Resta apenas uma imagem, ou aparência do verdadeiro espírito do budismo. Na era do Mappō, o espírito do budismo está completamente corrompido e perdido. De acordo com o Buda Sakyamuni, o primeiro período do Shōbō dura 1000 anos, o segundo período do Zobo dura também 1000 anos, e o período final do Mappō dura 10.000 anos.
  • [5] Shishi funjin shi Riki (师 子 奋 迅 之 力 o poder do salto impetuosode um leão): Do Juji Yujutsu Hon, capítulo XV( surgimento da terra) do Sūtra do Lótus: Nyorai kon Yoku. Ken ha sen-ji. Sho-Butsu Chie. Sho-Butsu ji zai. Jin zū shi Riki. Sho-Butsu shishi. Funjin shi riki. Sho-Butsu i myō. Dai sei shi riki. (如来今欲。顕発宣示。諸佛智慧。諸佛自在。神通之力。諸佛師子。奮迅之力。諸佛威猛。大勢之力。. O Tathâgata tem agora a intenção de revelar e de proclamar a sabedoria de todos os Budas, seus poderes sobrenaturais sem entrave, seu poder igual ao salto impetuoso de um leão.
  • [6] Além desta carta, Nichiren escreveu à Shijō Kingo e sua esposa em diversas outras ocasiões. Em 26 de Junho de 1278, Nichiren explicíta muito além de sua carta « a cura da enfermidade», os fenômenos, a fragilidade humana Nesta correspondência, ele destaca, segundo a doutrina budista tradicional, que existem duas causas que originam a doença.
  • 1) O primeiro grupo de doenças físicas tem causa no desequilíbrio ou nas perturbações dos elementos fundamentais da vida : a terra, a água, o fogo e o vento. Neste caso, a terra corresponde à carne, aos ossos, à pele e aos cabelos. A água corresponde aos líquidos orgânicos do sangue, ao suor, à linfa, e a todo outro tipo de líquido corporal. O fogo corresponde à temperatura do corpo, e o vento às funções respiratórias. Estas enfermidades podem ser tratadas com sucesso por um médico e não há a necessidade de um Buda para curar algumas destas doenças.
  • 2) O segundo grupo se refere às doenças do espírito. Estas doenças resultam de três venenos ; a avidez, a cólera e a ignorância. As doenças do espírito se distiguem por sua severidade. Todavia, em uma carta precedente, escrita em 3 de novembro de 1275, « A cura das enfermidades cármicas » Nichiren cita uma passagem do Maka Shikan do Grande Mestre do Dharma T’ien T’ai, «O Tathâgata utilizou sua morte para ensinar a eternidade [de sua vida] a fim de esclarecer o poder do budismo sobre as doenças. Se diz também: «Há seis causas para a doença: (1) falta de harmonia entre os quatro elementos (terra, água, fogo e vento), (2) se alimentar de maneira incorreta, (3) uma má prática de meditação sentada (má postura ou desajeitado), (4) o ataque de demônios (externos), (5) o trabalho dos demônios (internos) e (6) os efeitos do carma “. Na mesma obra, ele cita uma passagem so sétimo volume do Sūtra do Lótus: “Este sutra é um medicamento benéfico para as doenças de toda humanidade. Se estamos enfermos, o fato de escutar esta Sūtra, fara a doença desaparecer imediatamente, e nos depararemos com uma juventude perpétua e a vida eterna. Nichiren escreve em « a prática, o ensinamento e a prova (maio de 1274) »: «Se uma pessoa enferma for capaz de ouvir este Sūtra, então sua doença sera aniquilada, e ela não conhecera nem a velhice, nem a morte.”
  • [7] Kishimojin (鬼子母 神, Hāriti, em sânscrito) Uma deusa do budismo. Originalmente, Kishimojin era um demônio com uma centena de filhos. Para alimentar sua prole esfomeada, este demônio capturava os filhos de outros. O Buda Sakyamuni alterou suas más tendências ao lhe mostrar o quão grande era o sofrimento engendrado pela perda de uma criança, ao lhe esconder um de seus jovens filhos, Ajii, em um bolo de arroz. Impulsionado pelo desespero da perda de seu filho, ela se voltou ao Buda para pedir ajuda, e ele lhe mostrou que seu desespero era igual àquele dos outros pais cujos filhos tinham sido roubados. Kishimojin se arrependeu e passou a alimentar-se exclusivamente de romãs, e não mais de carne de crianças. No ensinamento do Sūtra do Lótus, Kishimojin prometeu defender os ensinamentos e proteger a todos que o praticassem.
  • [8] Dez Damas-demônios (十 罗刹 女, Jurasetsunyo em japonê): Dez filhas do demônio Kishimojin que participavam com sua mãe do rapto e do assassinato das crianças que alimentavam sua grande prole. No entanto, quando Kishimojin se converteu ao budismo, e sobretudo ao Sūtra do Lótus, elas também prometeram nunca mais matar crianças, defender os ensinamentos, e proteger todos os praticantes. As dez filhas são as seguintes: 1) Lamba (蓝 婆, Ranba), 2) Vilambā ou Pralambā (毗 蓝 婆, Biranba ou Biranpū) 3) Kūṭadantī, Mālākūṭadantī (曲 齿, Kyoshi) 4) Puṣpadantī (华 齿, Keshi ) 5) Makuta (黑 齿, Kokushi) 6) Keśīnī (多 发, Tahotsu); 7) Acala (无 厌 足, Muensoku); 8) Mālādhāri (持 璎 珞, Jiyōraku), 9), Kunti (皋 帝, kotai) e 10) Sarvasattvojahārī (夺 一切 众生 精 气, Datsu Issai Shūjō Shōki).
  • [9] Aizen (爱 染 明王, Rāgarāja en sanskrit): na verdade trata-se de Aizen Myō’ō, uma divindade búdica que purifica os desejos da população e a libera da ilusão e dos sofrimentos ligados aos desejos mundanos. Esta divindade é representada em sânscrito medieval por Siddham ao lado direito esquerdo do Mandala Gohonzon, e é o princípio búdico do Bonnō soku Bodai (os desejos terrestres, a ilusão e as outras aflições são a iluminação).
  • [10] Bishamonten (毘沙門天, Vaishravana em sânscrito): Um dos quatro reis celestes (Jikokuten se encontra a leste, Kōmokuten ao oeste , Bishamonten ao norte e Zōjōten ao sul) que servem a Shakra (conhecido como Indra, Sakra ou Śakradevanam, em sânscrito, o Senhor do centro e o principal protetor do budismo). Assim como seus generais, ele protege os quatro cantos do mundo. Estes quatro reis guardiões celestes são representados nos quatro cantos do Mandala Gohonzon. Se diz que Bishamon protege sempre o local onde o Buda pregou o Dharma, e aquele onde as pessoas escutam os ensinamentos do Buda. Bishamon também é um distribuidor da riqueza, o protetor da nação, flagelo dos abjetos e um curandeiro de. No capítulo XXVI (Dhâranî) do Sūtra do Lótus, Bishamon se compromete a proteger os praticantes do Sūtra do Lótus.
  • [11] Kunti (皋 帝, kotai): A nona das dez filhas do demônio Kishimojin, que foi convertida com suas nove outras irmãs e sua mãe para proteger os praticantes do Sūtra do Lótus.
  • [12] No texto original se lia «aquele que não progrediu» [na esgrima] Contudo, o tradutor utilizou a palavra « uma pessoa experimentada » no lugar desta frase para facilitar a compreensão e a leitura.
  • [13] Miao Lo (妙 楽 大师 ,711-782): Zhan Ran (湛然, Tan’nen em japonês), o Grande Mestre do Dharma, o 6º patriarca da escola chinesa T’ien T’ai, seguido do Grande Mestre do Dharma Chih’i (T’ien T’ai), e o 9º patriarca após Nāgārjuna. Ele compilou três grandes obras doutrinárias: o Maka Shikan Bugyōden Guketsu (摩诃 止 観 辅 行 伝 弘 决, análise da grande concentração e do discernimento), o Hokke Gengi Shakusen (法 华玄义 釈 签, Comentários sobre o sentido profundo do Sūtra do Lótus ) e o Hokke Mongu Ki (法 华文 句 记 Fa Wen Hua Chu Chi em chinês, « Comentários sobre as palavras e as frases do Sūtra do Lótus”).
  • [14] Du Hokke Mongu Ki (法 华文 句 记, Fa Wen Hua Chu Chi em chinês, Comentários sobre as palavras e as frases do Sūtra do Lótus) de Miao Lo, grande mestre do Dharma.
  • [15] Do capítulo Yakuo Bosatsu honji-hon (Bodisatva Rei da medicina, capítulo XXIII do Sūtra do Lótus (充 満 其 愿 如 清凉 池): « Este Sūtra satisfaz seus desejos, como um lago claro e fresco responde a todos que estão sedentos. »
  • [16] Do capítulo Yakusō Yu-Hon (parábola das ervas medicinais), capítulo V do Sutra do Lótus (现世 安 穏 后生 善 处): « Eles conhecerão a paz e a segurança nesta vida de circunstâncias favoráveis em sua vida futura. »
  • [17] O exílio: O termo utilizado no texto original não era « o exílio », mas « grande perseguição », e faz referência à maior de todas as perseguições ao enconro do Dharma de Nichiren Shōnin. Esta grande perseguição começou com a tentativa interrompida de decapitação em Tatsunokuchi (por um grupo de soldados comandados por Hei-no-Saemon que tentou realizar arbitrariamente uma execução ilegal sem estar autorizado pelo regente Hojo do governo de Kamakura) em 12 de setembro de 1271, seguido de um exílio de dois anos e meio (de 10 de outubro de 1271 a 13 de março de 1274) na ilha de Sado. Nichiren Shōnin foi finalmente reabilitado pelo regente de Kamakura em fevereiro de 1274, e retornou a Kamakura em 26 de março. Estar exilado na Ilha de Sado nesta época aparentava a um exílio na Sibéria, onde um frio extremo imperava, somado a uma falta aguda de alimento e conforto. Na história do Japão, as penas de exílio em Sado foram utilizadas pelos diferentes governos japoneses por 1222 anos, à partir do período de Nara (646-794) e continuou no período Edo (1615-1868). Para ilustrar melhor a dureza do exílio em Sado, encontramos no « Teihon Sado Ryūnin-shi» (Os manuscritos autênticos sobre a história do povo exilado em Sado) : « neste dia, sobre os 700 exilados que foram claramente registrados ao longo do período antigo e medieval, apenas 21 pessoas foram perdoadas. Diversas outras foram mortas, morreram por doença, decapitadas ou conseguiram fugir». Como consequência, uma pena em Sado, equivalia a um sofrimento extremo e uma morte certa, logo atrás da própria pena de morte.
  • [18] A família da dama Jotoku (Virtude Pura): A dama Jotoku era esposa do monarca brahmane Myōshōgon, que viveu na época do Buda Unraionshukuō Kechi (Constelação rei da Sabedoria dos sons das nuvens), aparece no capítulo XXVII (Rei Myōshōgon) do Sūtra do Lótus. Dama Jotoku, com seus dois filhos, os príncipes Jōzō e Jōgen, encorajaram o rei a encontrar o Buda. Após o rei lhe ter feito oferendas, o Buda realizou uma profecia na qual predizia que o rei se tornaria um monge após atingir a iluminação, tomando o nome de Buda Sharajuō (Buda rei das árvores Sal). O rei imediatamente abdicou em favor de seu irmão mais novo e com a mulher e seus filhos, tornou-se monge na Sangha do Buda, onde se consagrou à prática e ao estudo do Sūtra do Lótus. Após sua morte, o rei renasceu sob os traços do Bodisatva Ketoku (Padmashri), e assim se encontrou na assembleia para ver e ouvir o Buda Sakyamuni expor o Sutra do Lótus no Pico do Abutre (também chamado Pico da Águia).
  • [19] A filha do rei dragão: Descrita em uma parábola do capítulo XII (Daibadatta) do Sūtra do Lótus. É a filha de 8 anos do Rei Dragão, cujo reino e o palácio estão situados no fundo do mar. Após ter escutado o Bodisatva Manjushri pregar o Sūtra do Lótus no palácio do rei, a menina havia se comprometido a atingir a Iluminação. Esta história, que figura neste capítulo, demonstra que o Sutra do Lótus recusou a ideia precedentemente declarada que apenas os homens poderiam atingir a Iluminação e que as mulheres deveriam renascer como seres humanos antes de se tornarem Budas. Na verdade, esta história demonstra que uma mulher, em seu estado atual, é capaz de transformar sua vida tanto quanto um homem e pode atingir a Iluminação através de seu próprio mérito, sem passar pelo ciclo de renascimentos. Isto ilustra o propósito que o Sûtra do Lótus, por seu poder, permite a todos com sua forma atual atingir o estado de Buda.
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