por Rev. Kanjo Basset
Peregrinações japonesas não se resumem apenas a visitar um templo ou santuário. Elas são experiências completas que mesclam dever religioso com diversão, boa comida e vida na estrada na companhia de seres humanos, onde todos os problemas irritantes de um momento qualquer, se transformam com o tempo em um caloroso tesouro de recordações compartilhadas.
Shukubo é um alojamento para peregrinos, ligado a um templo ou santuário famoso. Porém, nem todos os templos com o caractere “bo” no nome indicam local de hospedagem. Um exemplo é Hongyoji Daibo em Ikegami Honmonji, onde Nichiren Shonin faleceu. No caso, “bo” foi anexado ao nome para indicar que era a antiga residência de Lorde Munenaka Ikegami.
Shukubo floresceu no Japão no final do período Edo e os templos de Nichiren não eram exceção. Na região de Minobusan, havia cerca de 180 shukubo. Eles estavam espalhados por toda parte, diferentemente de como pode ser visto hoje, ao redor do Templo Kuonji. Desde o final do período Edo e os primeiros dias do período Meiji, o número de shukubo em Minobusan declinou lentamente até os atuais 32. Menos peregrinos os visitam e menos pessoas vivem em áreas rurais para cuidar deles.
Uma história paralela interessante é que os templos e santuários em áreas rurais tinham muitos shukubo, enquanto templos famosos em grandes cidades como Ikegami Honmonji tinha poucos, ainda que algum, o que faz sentido, pois, as pessoas daquela época queriam viajar, e isso era incentivado por funcionários do governo. Isto porque os viajantes significavam dinheiro fluindo para as economias locais.
O que nos traz ao Omiyage, as onipresentes lojas de souvenirs, que estão próximas de qualquer templo ou santuário famoso. Peregrinos que compram presentes, apoiam ambos os mercadores e o templo, através da taxa de aluguel dos templos. Os comerciantes do período Edo também tiveram uma percepção perspicaz de ‘marca’, como vemos hoje em todos os tipos de comidas regionais famosas e lembrancinhas, mas, havia também um sentimento de partilha, porque nem todos podiam custear uma viagem. Comprando ‘Omiyage’, de acordo com a pronúncia do nome, não como os caracteres kanji sugere (お土産), era uma maneira de compartilhar a experiência de viagem com a família, amigos e vizinhos, que depois retribuiriam a gentileza e a diversão, quando eles, por sua vez, viajassem em peregrinação. Compartilhar coisas boas com todos é o “‘en’ Budista em ação”, mesmo quando envolve dinheiro e comércio.
(*) Texto publicado no Nichiren Shu News de dezembro de 2020. Tradução da Sangha Hokekyoji da Nichiren Shu Brasil em novembro de 2021.
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