O peixe vive na água, e a água é um tesouro para o peixe; as árvores crescem na terra, e a terra é um tesouro para as árvores. Da mesma forma, seres humanos vivem porque se alimentam com comida, então a comida é o seu nobre tesouro. A vida é o mais precioso de todos os tesouros. Consta em um sutra que nada em todo o universo é tão precioso quanto a vida, e mesmo colocando todos os tesouros de todo o universo juntos nada pode substituir a vida.

( “Ji Ri Kuyo Gosho”. 1.276, aos 54 anos em Minobu, Showa Teihon p. 1261)

 

O Gosho de hoje, Nichiren Shonin escreveu quando tinha 54 anos, ele morava no Monte Minobu. Aqui ele fala de duas coisas interessantes: a primeira, a respeito da importância do nosso ambiente; das coisas que nós recebemos para que possamos viver e, depois, a importância da vida propriamente dita.

Então, a respeito de uma oração que tem na página 108 da nossa liturgia; uma oração para antes das refeições, ele diz o seguinte: os raios do sol, lua e estrelas, que nutrem nossos espíritos, e os cinco grãos da terra, que nutrem nossos corpos, todos são presentes do Buda Eterno, até mesmo uma gota d’agua ou um grão de arroz é resultado de um valoroso e árduo trabalho. Que essa refeição possa nos ajudar a manter um corpo, mente e espírito sadios, de modo a sustentar os ensinamentos do Buda, retribuirmos os quatro favores, e realizarmos a conduta pura de servir aos outros.

Quais são os 4 favores que ele menciona aqui? Está escrito favores para com as 3 joias: os pais, o país e a humanidade.

Essa oração é interessante porque fala a respeito da importância dos alimentos. Nichiren Shonin fala que a água é importante para o peixe, porque o peixe está dentro da água, precisa da água para nadar, comer, respirar. As árvores crescem na terra, então a terra dá sustento à árvore; em termos de minerais, de água, dá base para a árvore se apoiar. Nós, seres humanos, temos muita coisa que nos apoiam, na verdade. Nós temos, por exemplo, o ar ao nosso redor, que precisamos para respirar.

Hoje em dia, com a crise coronavírus, muita gente se dá conta como o ar é importante, e como a gente realmente precisa disso. Porque quando não pensamos a respeito, respirar parece ser uma coisa natural, normal, garantida, mas e quando perdermos a capacidade de respirar? Quando começarmos a ter problemas nos pulmões, nas nossas vias respiratórias, aí começamos a perceber como somos dependentes de todas as coisas que estão ao nosso redor, mesmo elementos tão fáceis, tão simples, que são tão abundantes quanto o ar, oxigênio e os outros gases que estão misturados.

Aqui ele fala da comida, a respeito dos cinco tipos de grãos: o arroz, cevada, dois tipos de milho e soja, há outros relatos um pouco diferentes, que poderiam ser arroz, cânhamo, milho, cevada e soja.

É muito importante que tenhamos gratidão pelo alimento que recebemos; é muito importante saber que não vamos simplesmente ao mercado e compramos, pois aquilo teve toda uma cadeia, todo um processo, pessoas envolvidas, que colheram a planta, que a produziram, processaram, embalaram; pessoas que arrumaram as coisas no mercado e as pessoas que venderam para nós.

Às vezes, há pessoas que preparam os alimentos para nós também, temos que nos lembrar dessa cadeia, dessa conexão que temos de interdependência de todas as pessoas. E se uma dessas pessoas faltar em todo o processo? Tudo isso se desfaz, então nós vivemos por causa da interdependência, nós vivemos por causa de nossos relacionamentos com todas as outras coisas e todas as outras pessoas, então a comida é muito importante para nós, mas precisamos valorizar, não só a comida, como tudo o que está envolvido dentro dessa cadeia, dentro desse processo.

Então a interdependência é que mantém as coisas funcionando e unidas. Podemos pensar “interdependência é opcional, né?”. Não é! Na verdade, a interdependência é o que garante a nossa própria existência. Um exemplo: uma molécula de água, H2O, um Hidrogênio ligado a dois Oxigênios; eles são interdependentes, estão ligados entre eles e existem. Você toca a água, você sente a água, mas há uma interdependência, uma conexão entre os elementos que fazem com que ele se torne água de fato. E é assim conosco também, nossa conexão com todas as pessoas, com todas as coisas, que faz com que a gente se torne ser humano., se torne uma pessoa, uma sociedade, que consiga interagir, crescer e se desenvolver.

No caso desse Gosho, de receber alimentos… Nichiren Shonin morava no Monte Minobu, lá não havia muitos recursos naquela época. Então ele dependia de receber alimentos e doações dos seus seguidores. Então, muitas vezes, ele passou por períodos de escassez de comida muito severas, e toda vez que recebia comida ele pensava: “que boa sorte tenho de estar recebendo isso”. Essas pessoas estavam sustentando a vida de Nichiren Shonin. Tradicionalmente, no Budismo, os monges vivem de esmolas. No Japão, hoje em dia, é um pouco diferente, mas também não é muito, porque os templos são mantidos pelos membros; os membros sustentam o templo, eles participam das atividades, fazem com que tudo aconteça. Os monges dependem dos membros, dos leigos, para que eles possam sobreviver. E ensinar o Dharma é a retribuição. Ensinar o Dharma a alguém é a maior retribuição que podemos dar a ela, porque o Dharma remove os sofrimentos daquela pessoa, o Dharma pode dar uma felicidade que não é efêmera, que não vai acabar logo, mas uma felicidade duradoura e verdadeira.

Outro ponto que está falando é a respeito da importância da vida. Então temos essas vidas todas, que sustentam a nossa própria vida, que dedicam a vida delas para que a nossa vida possa ser mantida, não existe vida mais preciosa, ou menos preciosa, todas as vidas são importantes.

Então, novamente, estamos passando por essa crise, muitas vezes a gente vê a vida como números. Aqui no Brasil, infelizmente, passamos muitas vezes por situações tristes, como criminalidade, violência e tudo mais. Aí enxergamos tudo isso com números e muitas vezes como uma estatística, mas na verdade são vidas; temos que nos preocupar com isso. Cada indivíduo, não importa quem ele seja, não importa o time que ele torce, não importa o partido que ele gosta. Todo mundo tem dentro de si o estado de Buda, todo mundo é um Buda em potencial, então precisamos respeitar todos como Budas, porque de fato todos são Budas.

Temos que fazer como o Bodhisatva Jamais Desprezar fazia: respeitar todos eles, todos são Budas em potencial, que talvez no momento não estejam se comportando de acordo, mas estarão em algum momento. Precisamos provocar essa mudança na sociedade através do nosso próprio exemplo.  Então a mensagem de hoje é:

Vamos respeitar. Vamos respeitar a vida, vamos respeitar todos os processos, todas as coisas que possibilitam com que estejamos vivos hoje. Vamos sempre pensar em todas as coisas e todos os indivíduos que compõem a nossa realidade como Budas. Vivemos numa Terra Pura de Buda, as pessoas ao nosso redor são Budas, os animais, as plantas; nós não enxergamos, criamos barreiras, preconceitos, mas na verdade tudo aqui já é puro, só precisamos purificar a nossa visão, os nossos sentidos, para que possamos entender isso e viver de uma forma mais completa.

Como que fazemos isso? Continuando a nossa prática de recitar Namu Myoho Renge Kyo.

 

Orientação do Shami Guilherme Yotatsu Chiamulera em 28/03/2021 (https://youtu.be/34Dbb5fIENs) 

Transcrição: Débora Gekka Rodrigues da Silva

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