A biografia precisa de Nichiren pode ser notada através de seus ensaios, cartas e de documentos antigos. Mas há muitas lendas significativas, também. Então, vamos refletir sobre várias lendas neste artigo.

Por Reverendo Gyokai Sekido

 

A Chegada da Carta-Circular da Mongolia

A carta-circular da Mongólia foi entregue em 1268. Aparentemente, os mongóis afirmaram querer estabelecer uma relação amistosa com o Japão. Na realidade, contudo, a Mongólia exigia a obediência do Japão. Se o Japão não atendesse a exigência, a carta afirmava que a Mongólia estava pronta para usar sua força militar. As pessoas no Japão ficaram aterrorizadas com a ameaça do ataque mongol. Houve uma pessoa que previu esta crise. Foi Nichiren Shonin. Ele previu a crise da invasão estrangeira do Japão em seu “Rissho Ankoku-ron” (Ensaio sobre a Paz em todo País pelo Estabelecimento do Dharma Verdadeiro). As pessoas que acreditavam na afirmação de Nichiren Shonin aumentavam progressivamente.

A seca continuou a partir do quinto mês de 1271. Nichiren Shonin participou de um desafio de oração pela chuva contra o Sacerdote Ninsho (1217-1303) da Escola Ritsu (Preceitos). Ninsho rezou primeiro, em vão. Em seguida, foi a vez de Nichiren rezar. Ninsho prometeu “Se chover, eu me tornarei seu discípulo”. Quando Nichiren Shonin orou, uma nuvem negra apareceu e começou a chover. Ninsho criticou Nichiren Shonin sem honrar sua promessa. Ninsho promovia trabalho social sob a proteção do xogunato. Por causa disso, muitos estadistas o apoiavam. A crítica de Ninsho contra Nichiren Shonin causou a perseguição de Tatsunokuchi.

A ameaça mongol deixou os líderes de Kamakura tensos. Eles não desejavam que o número de pessoas que apoiavam Nichiren Shonin aumentasse rapidamente. Então, a crítica contra Nichiren feita por Ninsho, em quem os lideres confiavam, não tinha como ser ignorada. O xogunato prendeu Nichiren Shonin e o levou para o local da execução em Tatsunokuchi.

O fato histórico da oração pela chuva realizada por Nichiren e Ninsho está detalhado no “Yorimoto Chinjo” (Carta de Explicação por Yorimoto). Nichiren também menciona a carta-circular da Mongólia em seu “Ankoku-ron Gokanyurai” (Razão para envio do Rissho ankoku-ron). Estas ações executadas por Nichiren são conhecidas em detalhes desde aquela época. Além disso, diz-se que Nichiren escalou o Monte Fuji naquele tempo.

Houve um fazendeiro que Nichiren Shonin encontrou em 1269 a caminho da província de Kai (presente Prefeitura de Yamanashi) que admirava as virtudes de Nichiren Shonin. Achando que Nichiren Shonin fosse o principal sacerdote budista do Japão, ele encaminhou seu filho, chamado Nisshin, para ser aluno de Nichiren. O fazendeiro também se tornou um sacerdote e passou a se chamar Nichigen. Mais tarde, Nisshin se tornou o terceiro sacerdote chefe de Minobusan. Acredita-se que Nisshin seja o segundo filho de Soya Kyoshin, seguidor de Nichiren Shonin em Shimousa (presente Prefeitura de Chiba). Nichigen era um descendente de Abe Sadato (1019-62), uma pessoa ilustre no Distrito de Tohoku durante o Período Heian. Eles fugiram para Kai e se tornaram fazendeiros quando Abe Sadato foi derrotado por Minamoto Yoriyoshi (988-1075) em meados do Período Heian.

Certo dia, Nichigen convidou Nichiren Shonin para escalar o Monte Fuji. Eles saíram cedo pensando “Procrastinação é o ladrão do tempo” e chegaram a Yoshida (presente cidade de Fujiyoshida). Por lá haviam muitos seguidores de Nichiren Shonin, onde o Templo Jogyo-ji foi construído mais tarde. Eles escalaram o Monte Fuji a partir daquele ponto. O céu estava ótimo e a vista das várias províncias estava maravilhosa. Nichiren Shonin copiou oito volumes do Sutra do Lótus e enterrou na montanha. Em seguida, eles recitaram o Sutra do Lótus. Por causa disto, o local é chamado de “Kyoga Take” (o Pico do Sutra).

No caminho de descida da montanha eles apareceram de surpresa na vila de Kodachi-mura. Muitos aldeões que respeitavam Nichiren Shonin se juntaram e recitaram o Daimoku. Com pedaços de papel em mãos, eles pediram a Nichiren Shonin para escrever “O Mais Venerável” (Honzon). Haviam 28 folhas de papel as quais Nichiren Shonin juntou e escreveu o grande Honzon que está no Templo Okanomiya Kocho-ji de Suruga (presente Cidade de Numazu).

 

A Perseguição em Tatsunokuchi

Derrotado por Nichiren no desafio da oração pela chuva, Ninsho difamou Nichiren para as autoridades principais do xogunato de Kamakura. Sendo ameaçado pela crise da invasão mongol, o governo militar não podia ignorar a popularidade crescente do nosso Fundador.

Por volta das 16h00 no 12º dia do nono mês de 1271, Hei-No-Sae-mon, um alto funcionário do xogunato, acompanhado por muitos soldados, invadiu o eremitério do nosso Fundador para prendê-lo. Amarrado com uma corda, nosso Fundador foi levado a cavalo para o local da execução como um criminoso de alta periculosidade.

Ao chegarem próximo do Santuário de Hachiman-gu em Kamakura, Nichiren pediu aos soldados para que parassem e o tirassem do cavalo. De frente para o santuário, Nichiren gritou: “Fui preso só porque eu estava fazendo meu melhor para divulgar o Sutra do Lótus. Você, Grande Bodhisattva Hachiman, jurou proteger o fiel do Sutra do Lótus! Por que você não me protege?”. Em seguida, ele voltou ao cavalo.

O local da execução localizava-se à beira-mar de Tatsunokuchi nos arredores de Kamakura, de frente para a ilha Enoshima. A execução por decapitação estava prevista para ocorrer por volta da 01h00 da madrugada do 13º dia. Porém, a sentença proferida contra Nichiren foi o banimento para a ilha de Sado. No entanto, eles planejavam decapitá-lo na madrugada daquela noite. No momento em que a execução estava prestes a ser realizada, ocorreu um fenômeno natural extraordinário que forçou a suspensão da decapitação. Mais tarde, a execução de Nichiren foi suspensa formalmente graças à uma petição feita por seus discípulos e seguidores leigos. Nichiren foi levado pra Eichi (presente Cidade de Atsugi) para ser banido para a Ilha de Sado.

De acordo com a lenda, Nichiren protestou ao Grande Bodhisattva Hachiman quando ele passou em frente do Santuário Hachiman-gu em Kamakura, perto da atual Akahashi. Isto é historicamente evidente. Em seguida, o grupo que escoltava nosso Fundador passou por Hase e chegou em frente ao Santuário Goryo. Ao receber uma mensagem de nosso fundador, Shijo Kingo (? -1296), que morava próximo, correu para ver Nichiren. Ele agarrou-se ao cavalo e se ofereceu para acompanhá-lo na morte. O grupo que escoltava Nichiren passou o desfiladeiro do Templo Gokuraku-ji e chegou até a Praia de Shichiri-ga-hama. Quando se aproximaram de Inamurayama, Nichiren tirou seu manto e o pendurou em um pinheiro porque ele não queria ter seu manto manchado de sangue após sua execução. Os restos do pinheiro existem até hoje.

O grupo chegou a Tsumura, onde morava uma senhora idosa de 70 anos de idade, que se tornou uma fiel fervorosa do Sutra do Lótus após se encontrar com Nichiren em Kamakura. Ela vinha recitando o Daimoku todos os dias desde então. Sentindo-se profundamente triste por Nichiren, ela preparou com pressa um bolo de arroz, acrescentou gergelim e ofereceu para nosso Fundador. Nichiren ficou satisfeito e comeu. Como Nichiren escapou da decapitação, as pessoas apelidaram esse bolo de arroz de “o bolo de arroz do pescoço do Fundador”. Consequentemente, bolos de arroz com gergelim são servidos nas cerimonias memoriais da Escola de Nichiren. Outra lenda diz que quando a senhora tentou oferecer o bolo de arroz ao nosso Fundador, ela deixou o bolo cair no chão que ficou coberto com areia. Apreciando sua bondade, Nichiren o comeu, dizendo “Gergelim dá um bom gosto ao bolo de arroz”. O Templo Ryukoji localiza-se agora no local da execução. A cerimônia que comemora o “bolo de arroz coberto com gergelim” acontece neste templo. Biscoitos de gergelim também são disponibilizados.

A execução de Nichiren foi suspensa formalmente e ficou definido que ele seria banido para a Ilha de Sado, como havia sido condenado inicialmente. Nichiren foi então levado para Echi (presente Cidade de Atsugi, Prefeitura de Kanagawa) a caminho de Sado. Diz a lenda que foi por causa de um objeto estranho que brilhava nas águas costeiras de Enoshina que sua execução foi suspensa. Mas consta em outra lenda que a espada do carrasco foi atingida por um raio e se partiu em três pedaços.  Na realidade, contudo, acredita-se que os apelos feitos por seus discípulos e seguidores leigos se revelaram eficazes.

Adachi Yasumori (1231-85), que foi muito influente dentro do xogunato de Kamakura, era amigo de Daigaku Saburo, um calígrafo e líder seguidor leigo de Nichiren. Yasumori apreciava caligrafia também. Ele uma vez pediu para Nichiren realizar uma cerimônia budista.

Foi Heino Saemon quem ordenou a prisão de Nichiren Shonin. Ambos Adachi e Heino exerciam forte poder dentro do xogunato e se confrontaram. Discípulos e seguidores leigos agiram rápido e com firmeza para conseguir um perdão para Nichiren no curto espaço de tempo que havia entre sua prisão e sua execução. É um fato que a execução de Nichiren foi suspensa pelos esforços de figuras influentes do xogunato que estavam favoráveis a ele, como estava Adachi Yasumori.

Reza a lenda que há muito tempo, havia um lago chamado Fukazawa em Tatsunokuchi. Um dragão maléfico habitava o lago. Esse dragão alimentava-se de muitas crianças. Névoas e nuvens cobriam o mar em torno de Enoshina, quando houve um terremoto durante o reinado do Imperador Kimmei. De repente, o céu clareou, choveu flores, música foi ouvida e uma donzela celestial desceu do céu. Ela era a deusa Benzaiten da Ilha de Enoshina. Impressionado com a beleza da deusa Benzaiten, o dragão maléfico propôs casamento à deusa. Ela respondeu: “Eu sou a irmã mais nova da mulher dragão que aparece no capítulo do Sutra do Lótus chamado Devadatta. Eu não posso me casar com você, um dragão mal-intencionado, porque eu estou aqui para proteger o budismo. Vou aceitar a sua proposta se você mudar de ideia e proteger o budismo junto comigo”. Dessa forma, o dragão maléfico jurou proteger o budismo. Dizem que Tatsunokuchi tornou-se um local de execução porque esse dragão que jurou proteger o budismo sugava o sangue dos malfeitores.

Muitos discípulos e seguidores leigos recitavam o Daimoku chorando, enquanto aguardavam a execução que estava prestes a ser realizada. Homma Zae-mon Naoshige (?-1329) de Eichi apanhou a espada e se preparou para a execução. Mas, ele começou a chorar e disse a Nichiren Shonin: “Eu sei que você é uma pessoa maravilhosa. Você não é um ladrão. Você não planeja traição. Você somente pregou o Sutra do Lótus. Estou nos finais dos meus cinquenta anos, não quero matar um sacerdote mesmo que seja por ordem do xogunato. Você deve abandonar o Sutra do Lótus e ter fé no Nembutsu. Se você fizer isso, vou pedir ao xogunato para parar a execução”. Mas, Nichiren recusou a proposta dizendo: “É com alegria que dedico minha vida ao Sutra do Lótus”.

Naoshige não teve outra escolha a não ser começar a preparação para a execução. Foi então que nuvens de chuva surgiram de repente e ventos fortes sopraram. Grandes gotas de chuva começaram a cair estrondosamente e ondas grandes se formaram no mar. Todas as chamas das tochas se apagaram e cercas e cortinas foram arrancadas pelo vento. Um objeto grande e brilhante como a lua cheia apareceu e sobrevoou o mar de Enoshina do sudeste para o noroeste.

Com toda a sua força, Naoshige ergueu a espada, mas sua espada se partiu em três pedaços. Heino Saemon e seus trezentos soldados foram surpreendidos e pularam para o lado. Nichiren gritou “Apresse-se e me executa”. Mas ninguém se aproximou dele porque ficaram com medo. Logo, o vento e a chuva enfraqueceram e o dia nasceu. Heino Saemon relatou rapidamente o ocorrido ao xogunato.

O xogunato convocou uma reunião sobre a execução de Nichiren Shonin. Por conta de um estranho fenômeno natural ter ocorrido, eles concluíram que Nichiren não deveria ser morto. A carta de perdão foi escrita às pressas e Nanjo Shichiro, um seguidor samurai de Nichiren, correu para entregar a carta no local da execução. O mensageiro de Heino Saemon de Tatsunokuchi também saiu às pressas para comunicar o xogunato. Nanjo Shichiro encontrou o mensageiro na ponte do rio Shichirigahama que veio a ser chamada Ponte de Yukiaibashi (Ponte onde se encontraram).

O Caminho para Sado

Há um registro sobre a ida de Tatsunokuchi para a Ilha de Sado no “Shuju Onfurumai Gosho” (Reminiscências) de Nichiren Shonin. Impossibilitados de executar Nichiren Shonin no 12º dia do nono mês de 1271, os dirigentes do xogunato o levaram para Echi (presente Cidade de Atsugi) onde Nichiren ficou detido por 28 dias até o 10º dia do mês seguinte. Homma Rokuro Zaemon Shigetsura (?-1296) Vice-Defensor de Sado, tinha autoridade e residia em Sado e transitava regularmente entre a Ilha de Sado e Echi. O “Shuhju Onfurumai Gosho” faz menção a uma estrela estranha que desceu sobre Echi e a detenção dos discípulos de Nichiren. Homma Shigetsura ficou encarregado de vigiar Nichiren Shonin enquanto o xogunato decidia o que fazer com ele. Nichiren Shonin orou pela proteção dos fiéis do Sutra do Lótus na noite do 13º dia do nono mês sob o céu estrelado. Então, uma estrela grande do tamanho de Vênus desceu do céu e se pendurou no galho de uma ameixeira. Atualmente, os três Templos de Myojun-ji, Myoden-ji e Rensho-ji estão na Cidade de Atsugi, cada um reivindicando ser o local sagrado onde a estrela desceu.

Enquanto Nichiren Shonin estava em Echi, sete ou oito casos de incêndio e muitos casos de assassinatos ocorreram em Kamakura. Boatos diziam que os discípulos de Nichiren cometeram estes crimes. Os discípulos de Nichiren e seguidores leigos (cerca de uns 250 indivíduos) foram presos ou exilados. Logo se soube que o boato foi uma mentira criada pelos Budistas da Terra Pura e os discípulos de Nichiren foram libertados. Mas o número de seus seguidores diminuiu drasticamente e a comunidade enfrentou uma crise.

Nichiren Shonin partiu de Echi no 10º dia do 10º mês, chegando em Sado no 28º dia do mesmo mês. Na partida de Echi, Nichiren despediu-se dos discípulos e seguidores como Nikko, Niko, e Lorde Toki. Ele pernoitou em Kumegawa (presente Prefeitura de Saitama). No dia 11, Nichiren encontrou com Sumida Jiro Tokimitsu, administrador de Nizo (presente Cidade de Toda). A esposa de Sumida estava em um trabalho de parto difícil. Quando seu marido rezou para um deus, ele teve um sonho estranho em que lhe foi dito “Amanhã um grande sacerdote passará por este caminho, peça-lhe ajuda”. Tokimitsu aguardou na estrada desde a manhã e pediu ajuda para Nichiren Shonin. Nichiren, sentado em um pequeno santuário no caminho, desenhou o objeto principal de devoção (Honzon) e recitou o Sutra. Consequentemente, ela teve um bom parto e a criança cresceu saudável. O casal se tornou seguidor fervoroso de Nichiren Shonin. Mais tarde, Sumida Jiro Tokimitsu se tornou um sacerdote chamado Nittoku que construiu o Templo de Myoken-ji. Hoje, este templo guarda o “Honzon para proteção da criança” que Nichiren escreveu.

Nichiren Shonin e seu grupo chegaram em Kuritsu (presente Prefeitura de Gunma) no 14º dia, e se hospedaram na casa de Hasegawa Chogen, que se tornou o Templo de Chogen-ji. Mais tarde, esse templo foi convertido e renomeado para Templo Tenryu-ji (presente Cidade de Fujioka).

Nichiren e seu grupo atravessaram pela passagem da montanha de Echigo, desafiando neve e granizo. No 21º dia, eles chegaram no porto de Teradomari (presente Prefeitura de Niigata). Após aguardar por um vento favorável, eles partiram para a Ilha de Sado no dia 27, mas o navio foi desviado de volta para a Praia de Kakuta (Prefeitura de Niigata) devido ao vento forte. Na praia, duas crianças bonitas contaram a Nichiren Shonin, “Há uma cobra venenosa e perigosa numa caverna na montanha que está picando pessoas e animais. Você pode nos ajudar?”. Tal cobra venenosa fugiu quando Nichiren Shonin escreveu o sutra numa pedra e a atirou dentro da caverna. O Templo Myoko-ji foi construído em Kakuta.

Embora o navio deles tenha zarpado de Kakuta no dia 28, parecia que o navio afundaria naquelas águas revoltas. Nichiren Shonin avançou até a proa do navio e recitou o Sutra do Lótus. Em seguida, ele apanhou um remo e escreveu o Daimoku na superfície do mar das águas revoltas. O caractere branco do Daimoku que ele escreveu na onda não desapareceu por um tempo. Eles o chamaram de “Daimoku flutuante da Ilha de Sado”. O mar ficou calmo e eles chegaram em Matsugasaki na Ilha de Sado. Mais tarde, o Templo Hongyo-ji foi construído no local.

Entrando em Minobusan

Na Ilha de Sado, Nichrien Shonin escreveu tratados importantes e desenhou o Gohonzon (Objeto Principal de Devoção) pela primeira vez. Ele deixou Sado no 13º dia do terceiro mês de 1274. Chegou em Kamakura no 26º dia do mesmo mês onde foi interrogado por líderes do xogunato no 8º dia do 4º mês. Eles lhe perguntaram sua opinião sobre a invasão mongol. Nichiren enfatizou a importância de manter a fé no Sutra do Lótus, mas sua opinião não foi acatada pelos membros importantes do xogunato, que estavam somente interessados no ataque mongol. Tendo desistido da conversão do governo militar, Nichiren Shonin partiu de Kamakura no 12º dia do quinto mês. Ele chegou em Minobusan, então domínio de Lorde Hakii Sanenaga, no 17º dia do mesmo mês. Consta que quando Nichiren se encontrou com líderes do xogunato no 8º dia do 4º mês, eles lhe propuseram suspender suas atividades de propagação excessiva em troca de uma propriedade vasta e um templo.

Nichiren Shonin deixou Kamakura no 12º dia do 5º mês e pernoitou em Sakawa (presente Cidade de Odawara). Ele chegou em Takenoshita (paço ocidental da Passagem de Ashigara) no 13º dia, em Kurumagaeshi (Cidade de Numazu) no 14º dia e em Omiya (Cidade de Fujinomiya) em Fuji no 15º dia. Ele foi de Utsubusa (Fuji-gun, Prefeitura de Shizuoka) para Nambu (Prefeitura de Yamanashi) no 16º dia.  Finalmente ele chegou em Aimata, a entrada de Minobusan, no 17º dia e entrou no eremitério em Minobusan no 17º dia do 6º mês. Dizem que Nichiren caminhou por uma área muito grande, desde a Prefeitura de Yamanashi até a Prefeitura de Nagano, pregando o Sutra do Lótus durante um mês.

Um asceta montanhês famoso chamado Zenchi estava em Komuro (Masuho-cho, prefeitura de Yamanashi) próximo a Minobusan. Nichiren Shonin junto com Nikko e Niko (dois dos Seis Discípulos Principais) estavam sentados numa pedra no caminho para Komuro recitando o Sutra do Lótus, quando Zenchi apareceu e travou um embate verbal com Nichiren.  Zenchi foi logo derrotado e se tornou um discípulo de Nichiren. Ele fundou o Templo Myohoji de Komuro. Naquela época, os campos de arroz de Komuro tinham muitas sanguessugas. Dado que as sanguessugas grudavam nos membros e sugavam o sangue das pessoas, as mulheres que plantavam as mudas e os fazendeiros que aravam os arrozais estavam em apuros. Nichiren Shonin, ouviu sobre o problema e recitou o Sutra do Lótus ao lado dos arrozais. Consta que as sanguessugas em Komuro pararam de sugar sangue, e que elas tinham o formato de estrela na cabeça.

Nichiren e seus discípulos seguiram por um caminho agradável da montanha e chegaram em Isawa (Cidade de Isawa). Eles avançaram na direção de uma lamparina à beira do rio para procurar abrigo, porque começou a chover de repente. Então, um homem idoso magro os encontrou. Ele era Ukai (um pescador que apanhou peixe usando um corvo-marinho). Ele disse a Nichiren Shonin, “Eu sou o malfeitor que continua a matar seres vivos. Por favor, salve-me”. Nichiren Shonin sentiu pena do homem e entoou o Daimoku. O homem idoso de voz frágil entoou o Daimoku junto com ele. Então ele disse alegremente, “Meus pecados desapareceram pela força do Sutra do Lótus”. Quando o sol nasceu, no entanto, o homem idoso e sua casa desapareceram.  Nikko e Niko ficaram surpresos. Nichiren Shonin então disse, “Este é o inferno onde nascem aqueles que matam os seres”. Eles permaneceram lá por três dias escrevendo os caracteres do Sutra do Lótus em muitas pedras e atirando-as dentro do rio. O Templo Ommyoji se localiza ali atualmente.

Passando para o Nirvana

Nichiren Shonin entrou em Minobusan em 1274. Ele orientava seus discípulos e seguidores leigos em seu eremitério. Muitos seguidores leigos fizeram doações para seu eremitério. Muitas cartas de gratidão escritas por Nichiren existem ainda hoje. Nichiren escreveu duas das suas obras principais: o “Senji-sho (Selecionando o Tempo Certo) e o Hoon-jo” (Ensaios sobre a Gratidão) em Minobusan em 1275 e 1276 respectivamente.

Nichiren teve um desarranjo gastrointestinal enquanto era perseguido repetidamente. O inverno frio era um clima severo para ele, que sofria com problemas de saúde a cada inverno. Preocupados com o problema de saúde de Nichiren, os discípulos enviavam-lhe medicamentos. Após aceitar o conselho dos discípulos, Nichiren decidiu se recuperar numa estância termal de Hitachi (presente Prefeitura de Ibaraki) em 1282. Ele partiu de Minobusan no 8º dia do novo mês, chegando na residência de Ikegami Munenaka de Ikegami (presente Tóquio) no 18º dia do mesmo mês. Mas, a condição de sua doença era muito séria para ele prosseguir em viagem. Percebendo que seus dias estavam contados, Nichiren nomeou os Seis Discípulos Principais como seus sucessores no 8º dia do 10º mês. Ele encarregou o jovem Kyoichimaro da futura atividade de propagação em Kyoto. Em seguida, ele fez sua última palestra sobre o “Risshoankoku-ron”. Enquanto muitos discípulos e seguidores leigos recitavam o Sutra, Nichiren passou para o Nirvana no templo onde um mandala Honzon foi consagrado as 08h00 da manhã no 13º dia.

Há uma lenda que relata uma experiência misteriosa de Nichiren Shonin no 11º mês de 1277. Nichiren estava pregando em cima de uma rocha no pântano em um dia quente de primavera.  Entre os ouvintes, havia uma mulher bonita de uns 20 anos de idade que vestia um quimono verde e vermelho. Os ouvintes queriam saber quem era aquela mulher. Quando o sermão acabou, Nichiren Shonin disse a mulher, “Mostre-nos sua aparência real”. A mulher sorriu graciosamente e respondeu, “Eu sou uma donzela celestial do Monte Shichimem”. Ela, então, pediu água. De repente, o céu nublou quando Nichiren Shonin lhe serviu água num vaso de flor. Inesperadamente, aquela bela mulher se transformou num enorme dragão de cerca de 6 metros de comprimento. Em um vento forte e uma nuvem giratória, o dragão voou para o céu ocidental. Ela era Shichimen Dai Myojin, que protegia o Sutra do Lótus.

Segundo outra lenda, o xogunato de Kamakura pediu uma oração a Nichiren no momento do ataque mongol em 1281. Nichiren Shonin providenciou uma bandeira grande medindo cerca de 2 metros, onde ele desenhou o sol na superfície frontal e a lua nas costas. Ele desenhou os Quatro Reis Celestiais nos quatro cantos, e desenhou 8 reis dragões nos oitos cantos. Depois, ele escreveu o objeto principal de devoção no centro do sol e da lua. Ele entregou a bandeira para o xogunato de Kamakura. O General Utsunomiya Sadatsuna e seu exército de 30.000 homens marcharam com a bandeira para Kyushu. Em seguida, eles fincaram a bandeira na montanha de Hakata (presente Prefeitura de Fukuoka). Então, subitamente surgiram tempestades e o exército mongol acabou sendo varrido como folhas das árvores. A vitória foi ganha sem que houvesse derramamento de sangue pelo exército japonês através do poder misterioso de Nichiren Shonin.

Nichiren Shonin previu no 23º dia do 9º mês de 1281, “Um grande terremoto ocorrerá quando eu estiver em meus momentos finais”. Um grande terremoto ocorreu no 13º dia do 10º mês, como previsto. Embora fosse outono, a montanha inteira de Ikegami ficou coberta por flores de cerejeira. Eis a razão porque flores de cerejeira feitas de papel decoram as cerimônias de Oeshiki.

 

— FIM —

 

(*) A Lenda de Nichiren Daishonin: coletânea de artigos publicados no Nichiren Shu News nas edições de fevereiro, abril, junho, agosto e dezembro de 2006 e fevereiro de 2007, traduzidos pela equipe de tradução da Nichiren Shu Brasil em março de 2019.

 

 

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